17 de dezembro de 2011


"O PROTEGIDO..." 

Editora: Clube de Autores.
2ª Edição, 2011.
ISBN:  978-85-912892-8-8
Nº de páginas: 416

Sinopse: 

Segundo livro da trilogia denominada: “Uma vida...”, em  continuidade ao: “A turma do Barreiro”, narra a juventude de um jovem de idade muito tenra, que foi como que empurrado pelos adultos a se tornar um jovem precoce para a vida de adulto enfrentar. Descreve sobre suas buscas e como enfrentou tudo com muita coragem; suas alegrias, ilusões, sonhos, fantasias, frustrações, dúvidas e incertezas e, principalmente, as ajudas que recebeu até se tornar um adulto.                    
Apesar de só, conseguia sempre o que queria. Sempre aparecia alguém para lhe dar ajuda! Teve ajuda de gente que jamais imaginaria ter e das mais diferentes. Nas horas mais difíceis surgia do nada alguém para lhe ajudar.       
Relata sua persistência, empenho e dedicação em vencer, sem, entretanto, deixar de viver. Amou e foi amado. Conheceu de tudo: as malandragens, as coisas certas e as erradas; conviveu com gente de formação duvidosa.  Não escolhia suas amizades; tinha amizade com todo tipo de gente. Conheceu e conviveu com prostitutas, gigolôs, ladrões, sambistas, trabalhadores, estudantes, gente boa e gente má, pobre e rica. Frequentou os mais diferentes ambientes. Tudo o que sabia, aprendeu nas ruas; aprendeu com a vida e, muitas vezes, de forma dura e direta.     
Por não ter recebido na infância os cuidados que toda criança merece, com muita coragem, decidiu enfrentar à vida sozinho. E ele reunia tudo para ser um marginal e, por não ter se tornado, só podia ser mesmo um protegido... 


Primeiras páginas.


Capítulo I

          O mesmo garoto, – aquele menino, chamado e conhecido por Dudu, cuja infância foi narrada no livro: “A turma do Barreiro”, é aqui, na segunda fase dessa história, também o protagonista. Que muito jovem ainda, forçado, e muito contra vontade, apesar da pouca idade, já estava trabalhando...      
               Não suportava mais a vida que levava. Sentia-se muito preso e não era só isso, não tinha motivação para fazer as coisas que fazia; era tão sem sentido, que nem se importava se ganhava ou não; uma tremenda perda de tempo, um verdadeiro desperdício, mas foi aguentando as coisas na esperança de que, um dia, tudo pudesse mudar...   
               Já tinha completado seus doze anos; trabalhava durante o dia e estudava no período da noite, – fazia o curso de admissão ao ginásio, para, no final do ano, outra vez, prestar o exame de admissão.   
             Todos os dias as coisas se repetiam, saia bem cedo para o trabalho e almoçava no emprego, – quando almoçava... 
             À tarde ia para a escola mesmo sem tomar banho, – não dava tempo de ir pra casa. Não jantava; só comia um lanche, – isso quando tinha dinheiro. O que ganhava não era muito, – não sobrava muita coisa – até para comprar seus livros à coisa era difícil; quando precisava, pedia ajuda de algum colega de classe para emprestar.
            Voltava pra casa sempre bem tarde da noite. Nos dias que não comia antes de ir para a escola, voltava com muita fome; era raro deixarem alguma coisa pra ele, – a atenção que lhe dispensavam era desestimulante e desanimadora. Às vezes, encontrava alguma comida que sobrava do jantar, mas na maioria dos dias não; quando tinha sorte comia, do contrário, ia pra cama com fome. 
            Não era raro também, ao levantar para o trabalho, não ter roupa limpa para vestir e assim, sem alternativa, ficava com a mesma do dia anterior; isso lhe deixava muito irritado e nervoso; ia trabalhar com essa raiva lhe mortificando. Claro que isso, trazia consequências nos seus relacionamentos, – no seu trabalho. Já tinha a predisposição de ficar isolado e solitário. Nesses dias, com mais razão ainda, evitava falar com as pessoas, – isolava-se o quanto mais podia.  
            Ficava muito envergonhado de estar sempre vestido de forma não muito apresentável. Voltava muito tarde do colégio, e como na casa dele não existia banheiro, não tomava banho para deitar, – banho só aos sábados... No dia seguinte, ao caminhar até o trabalho, invariavelmente, suava, – não existia tão pouco, naquela época, desodorante, como agora; ficava tão irritado com isso, que não se podia, muitas vezes, sequer falar com ele, – ficava intratável... 
             Com essa condição de vida que levava; a rotina do trabalho, preso numa atividade pouco atrativa, não encontrar apoio nos pais, muito menos carinho, tinha sensação de ser só, – abandonado. Isso estava mexendo com sua cabeça já há tempos e forçando a tomar uma decisão de buscar alguma saída...    


Capítulo II

         Aos sábados e domingos era que podia voltar a respirar, e senti-se, outra vez ele, – independente e livre... 
             Às vezes ia nadar com os amigos, às vezes ficava isolado no seu lugar preferido, – o canal; onde, além de pescar, podia deitar na sombra da árvore predileta e sonhar... Mas não era mais igual como tempos atrás, – nos dias de semana quando por lá ficava; aos sábados e domingos passavam muitos por ali e tirava um pouco da tranquilidade... 
             Ficou por algum tempo sem frequentar às missas de domingo, isso porque jogava futebol muito bem e lhe convidaram pra fazer parte de um time de outro bairro.
             As partidas eram realizadas aos domingos pela manhã e, portanto, não dava para ir à igreja. Fazia parte do time principal; participava das partidas finais e mais importantes, por isso, voltava pra casa sempre depois do almoço e só dava tempo de ir às matinês, – o que não lhe atraia mais. Apesar de garoto ainda, sentia-se um adulto e ir às matinês, era agora, pra ele, coisa de criança. E quando sobrava algum dinheiro, podia se dar ao luxo de ir ao cinema nas sessões noturnas, isso quando eram sessões proibidas pra menor de idade.
            Por jogar futebol, quase não encontrava mais, aos domingos, seus amigos de turma, mas aos sábados, logo cedo, saia à procura deles e juntos, iam nadar, pescar e outras coisas mais...
            Os encontros com os da sua turma eram bons, porém até certo ponto. Quando estava com eles, andando pra lá e pra cá, sem muito destino, fazendo o que lhes dava na telha, tinha outra vez confiança, sentia-se livre e voltava a ser ele. Ocorria o mesmo, quando ficava sozinho na beira do canal. Contudo, toda segunda-feira, quando retornava à sua rotina, os encontros e isolamentos passavam a ser ruins. Demonstrava claramente o que ele era: um preso, sem opinião própria fazendo o que não lhe interessava absolutamente. 
            Toda segunda-feira era um martírio. Ir trabalhar contra vontade; sair do trabalho e, sem jantar, ir para a escola; caminhar muito pra chegar e, depois das aulas, outra vez caminhar muito até chegar em casa e, quase sempre, dormir com fome...
            As coisas só começavam a engrenar das terças em diante. Não que mudassem, nada disso, mas é que caia realmente na rotina; mesmo fazendo o que não gostava e como obrigação, esquecia um pouco o que havia vivido no final de semana.
            E assim as coisas iam... 


Capítulo III

         Já fazia uns três meses que estava trabalhando; como era muito inteligente e até malandro, tudo era para ele, agora, mais fácil. Sabia como fazer isso ou aquilo e quando não fazer para não dar motivo e se comprometer... Apesar de insatisfeito, procurava fazer tudo o que lhe competia com muito capricho e esmero. 
            Aprendeu tudo muito rápido; o trabalho, já tinha virado rotina. O relacionamento com os companheiros de trabalho, já era diferente, – não era mais um novato – e era aceito sem rodeios e até respeitado por sua personalidade; não só pelos colegas, mas pelo próprio chefe, – Seu Artur.Toda vez que havia algo especial para ser feito era ele a quem o chefe escalava. Esses tratamentos e atenção que recebia, davam certo conforto e compensação por não receber o mesmo das pessoas de quem mais esperava. 


Capítulo IV

             Certo dia, – logo pela manhã, estavam todos na seção. Seus colegas ainda não tinham saído para os serviços externos; aguardavam – como acontecia todos os dias – Seu Artur separar as atividades de cada um deles. A porta abriu, e entrou o chefe do faturamento, – Seu Sílvio; puxou uma cadeira e sentou-se.
             — Bom dia, bom dia! – cumprimentou a todos.
             — Bom dia! – responderam.
             O homem ficou sentado sem dizer nada, talvez aguardando que Seu Artur perguntasse o que queria ou, talvez, aguardando um momento mais propiciou para falar.
             Um homem alto e magro, de pele clara e cabelos pretos lisos, com expressão de “não me toques”, – sempre de cara feia, e que, pelos comentários, não era muito querido; ao contrário, todos evitavam falar com ele. Tinha ar de “metido à besta”; não era simpático a ninguém...
             De momentos em momentos, Seu Artur parava o que estava fazendo e olhava por sobre os óculos; ora para os meninos, ora para o homem, como quem está de saco cheio; não demora muito, ainda olhando sobre os óculos, vira para o homem
            — Desculpa! – disse Seu Artur. Mas tenho que separar os trabalhos do dia. Não dá para parar, senão vou atrasá-los e, se atrasá-los, não irão conseguir fazer todos os serviços do dia. – falou isso voltando à atenção para suas coisas.
            — Não se preocupa Artur! – disse Sílvio. Tenho tempo! Pode terminar que espero!
            Parecia pra todos, – mesmo sem querer demonstrar – que Seu Artur não ia muito com a cara do sujeito. Havia até um comentário, de que tinha sido prejudicado, pois a chefia da seção de faturamento era para ter sido dada ao Seu Artur, e foi dada ao tal do Silvio. Pra não dar “pano pra manga” ou, talvez, por já estar irritado, parou de fazer o que fazia e olhou sisudo para o homem. 
            — Se você não se incomoda! Pode ir falando! No que posso lhe ajudar?
            — Não! Pode continuar! Posso esperar. – disse Sílvio.
            Como que bronqueado e, como sempre, olhando por sobre os óculos, volta falando nitidamente sem paciência. 
            — Pode falar! – insistiu Seu Artur.
            — Não prefiro esperar eles saírem! O que quero falar é sobre Dudu. – afirmou Sílvio.
            Quando falou aquilo, ficou todo mundo de “orelha em pé”, inclusive o próprio Dudu, pensando até assustado. “Que droga esse cara quer comigo?”
            Seus colegas, com cuidado, para não se comprometerem; surpresos, olhavam entre si, e pra cara de Dudu. Até Seu Artur, estava com uma expressão clara de surpresa e não se contém.

Um comentário:

Zé Patrick disse...

Muito bom esse livro! Foram muitos aprendizados obtidos na juventude, que com certeza o tornou mais evoluído. Recomendado!!!