"ESPELHO QUEBRADO..."
Editora: Clube de Autores
1ª Edição, 2011.
ISBN:
978-85-912892-1-9
Nº de páginas: 299
De onde veio minha inspiração:
Vocês
sabem como é quando nos sentimos desmotivados, enfadados, entediados ou coisa
assim, não é? Não temos vontade de nada, a não ser meditar reflexionando sobre
as “coisas”. Pois é! Há tempos a atrás, um dia eu me sentia assim, e a alternativa
que vi naquele dia era sair buscando me distrair. E logo cedo, pela manhã,
peguei meu carro e fui sozinho pelas estradas interior afora...
Depois
de rodar horas, senti fome e precisava também abastecer o carro, mas era um
lugar ermo – não havia nada, nem movimento, a menos das matas que circundavam a
estrada. Momento depois, eu vi um posto de gasolina e não tive dúvida: parei!
Mas, infelizmente, ou melhor, felizmente, – entenderão depois o porquê – no
posto não havia ao menos um lugar onde pudesse tomar um café. Sendo atendido com
gentileza pelo frentista ao abastecer o carro, – como por lá só havia mato e
nada mais – perguntei onde poderia comer um lanche coisa assim, e ele me
respondeu que por ali só pegando uma estradinha secundária indo a um vilarejo
próximo. Foi o que fiz!
Era
um dia quente com calor de “lascar” e já se aproximava da hora de almoço. Rodei
no vilarejo por aqui e por ali, notando muitas pessoas circulando pelas ruas e
resolvi estacionar na praça e buscar um local pudesse comer algo. Deixe o carro
e sai, mas não havia muita coisa; andei pra cá e pra lá, até que vi um restaurante
simples e entrei. As poucas mesas estavam ocupadas por pessoas almoçando; sem
alternativa, encostei ao balcão e foi quando tudo começou...
Uma
senhora de idade bem avançada veio me atender. Pedi algo e ela, curiosamente,
depois de me servir, não arredou pé; ficou com um pano na mão esfregando o balcão sem sentido e
me olhando comer. Achei muito simpática a mulher e já quis puxar conversa, mas não
tinha muito assunto a não ser comentar do calor que fazia e das muitas pessoas
que circulavam pelas ruas. Parecendo encantada com o comentário que fiz, aí é
que ela não saiu mais de perto de mim, dando toda atenção. Conversa vai
conversa vem, ela começou a comentar da saudade que tinha da cidade de quando
jovem, e eu, animado pela simpatia da mulher aproveitei, querendo agradar, pondo
“lenha fogueira” já fazendo perguntas de ordem pessoal: como ela vivia e coisa
assim. E a mulher parecendo cativada desembestou a contar sua vida... Dizendo ser
viúva e mãe de três filhos; um menino do seu segundo marido, - um homem
dedicado e bom, e com o primeiro duas moças, mas que esse bebia muito causando
sempre dissabor; disse isso, porém eu notei os olhos dela brilharem quando
falou do primeiro marido, com isso, brinquei com ela.
—
É, dona Adelaide! A senhora pelo jeito gostava desse seu primeiro marido e não quer
confessar, não é? – perguntei e a mulher não respondeu, continuou esfregando o
balcão com o pano sem nenhum sentido e sorrindo sorrisos dissimulados.
Dali
a pouco, não sei por que “cargas d’água”, a mulher começou a contar sua
juventude: de quando trabalhava na roça do seu sítio plantando milho e fazendo
farinha, da sua vida livre e independente ao fazer tudo sem ter que dar
satisfação a ninguém; da imensa saudade que tinha quando sua mãe, para lhe
agradar, fazia sua especialidade: um bolo de milho. A mulher contava tudo como
uma encantada; de repente, encosta ao balcão uma moça com olhares
recriminatórios pra mulher, perguntando se eu estava sendo bem servido, o que
de cara, deu-me a impressão de a mulher não era benquista por ali, – que faziam
favores a ela. Bem, depois de mais um ou dois café, acabei me despindo e fui
embora.
No
caminho de volta, da conversa que tive com a mulher, fiquei imaginando como
seria ter recordações remotas de um passado feliz que se foi sendo
desencantando pelo lamento da saudade; ao mesmo tempo, de envelhecer dependendo
das vontades e desejos dos mais novos, com isso, nasceu o “Espelho quebrado”, e escolhi
esse título, pois todo espelho quebrado perde seu encanto...
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