Cesar Soares Farias é gaúcho
e reside em Porto Alegre – RS, autor de dois livros, sendo que o seu primeiro
livro tinha mais característica de crônica pelas longas narrativas e nesse
segundo assume definitivamente sua identidade de contista.
O GRANDE PAJÉ
Gênero:
Contos
1ª Edição
Edição
Independente
ISBN: 978-85-63229-04-5
Número de páginas: 96
A
obra é uma coletânea de contos com alguns deles entremeados com versos de
música de compositores famosos e outros tantos por poesias e poemas onde o
autor narra enfatizando com profundidade temas atuais
e relevantes.
SUMÁRIO DA OBRA:
O
livro começa com um conto que dá título ao livro: O Grande Pajé, no qual o
autor discorre a história de vida de um casal com suas aspirações e desejos incontidos,
cercados pelas frustrações que, irremediavelmente, a vida nos prega e
determina. Sendo seguido por outros contos com os mais diversos estilos e
temas, narrando alguns de forma irônica e sarcástica, e em outros, de forma
hilariante e até cômica, sem deixar de ser preciso, claro e contundente, indo
da crítica sobre o cotidiano até ao preconceito racial. São todos
de inquestionável expressividade e um, em particular, chamou atenção e
transcrevo na integra para enfatizar a magnitude das narrativas e criatividade do autor, conto esse intitulado
de: PRETA, POBRE E FEIA.
MOÇAS e
Rapazes de 16 a 25 anos, p/panfletagem. Tratar: Av. Cairu 1084/308. POA dia
19/03.
- Bah...
Essa tá fudida... Preta, pobre e feia...
Uma
gargalhada estrondosa e homérica escapou por entre os lábios apertados de
Silvânia, que, diga-se a verdade, até tentou ser discreta diante daquele
comentário. Nilson, o gerente, era um debochado, todos funcionários da CAIRU
EMPRÉSTIMOS LTDA. o sabiam. Contudo, durante aquela seleção de candidatos
fez-se evidente a sua verdadeira índole. Diante de ambos, apresentava-se o
antepenúltimo candidato que conseguira retirar a senha para a entrevista. O
Citzen na parede marcava já doze horas e dez minutos. A empresa, apenas mais
uma no ramo da agiotagem, buscava dois novos profissionais para contratação
imediata, visto a recente inauguração da primeira filial, situada no limite
norte do próprio bairro. O serviço de panfletagem seria, na verdade, apenas um
estágio de duas semanas e seis dias, que conduziria os selecionados ao Quadro
Efetivo de Funcionários da Cairu.
Nilson
era o único filho do ex-deputado Ornella Hutzler, um viúvo alegre que acumulou,
com alguns méritos, em sete mandatos consecutivos, um patrimônio que permitiu a
ele e aos seus uma tranquila condição financeira, bem como algumas
excentricidades.
A
falecida Sra. Iria Hutzler fora a católica mais convicta da família e tentara
consagrar o coração do filho a São Lázaro, presenteando-o com uma medalhinha de
ouro, relíquia do santo. Misteriosamente, o adorno acabou causando-lhe alergias
no pescoço, semelhantes a marcas de açoite. O flagelo foi encarado por ela como
um sinistro presságio do destino que aguardava o seu rebento na vida
além-túmulo. Contudo, depois de frustradas tentativas, a velha desistiu de
querer incutir-lhe o Evangelho. Decepcionada, guardou a correntinha de metal
precioso no baú de relíquias, mantido até os dias de hoje no cofre do deputado,
atrás do quadro de Portinari, no quarto do casal.
A
mocinha afrodescendente, com certeza, não ouviu a sentença em tom de murmúrio
proferida a seu respeito. Porém foi-lhe impossível ignorar o riso daquela
rapariga no momento em que cruzou, cheia de esperanças, o umbral da sala 308.
Na peça não havia qualquer mobília, exceto as três cadeiras pretas acolchoadas
e com braços. A primeira vazia, plantada em frente à janela na parede dos
fundos e envolta pela escassa claridade daquele dia cinza. As outras duas, logo
em frente, na penumbra, ocupadas por Silvânia e seu chefe. Enquanto ela, a cada
novo candidato, rabiscava anotações em uma folha presa à sua prancheta de
madeira, ele limitava-se a formular breves perguntas informais e
esquadrinhá-los com o olhar. A jovem sentou-se e preencheu a Ficha, já bastante
desanimada pela recepção que tivera. Suas roupas eram um pouco desbotadas pelo
tempo e o tênis descolara na parte de trás durante os quilômetros de percurso a pé que fizera desde o Terminal de Ônibus do Mercado Público.
Faltava-lhe
apenas um ano para concluir o Ensino Médio. O pai, desempregado, andava
pressionando-a demais:
- Vai à
luta, tchê... A minhas irmã com a tua idádi já trabalhavam... Só istudá não
dá... Tu não é filha di rico.
***
-
Qualquer coisa a genti liga pra êssi teu telefoni di contato, tá? Por enquanto
tâmo só fazendo cadastro...
- Tá, então tá bom.
***
MINHA
OPINIÃO:
O livro contém contos interessantíssimos e ricos em detalhes, narrados de forma primorosa, com qualidade inquestionável, discorridos com muita criatividade e originalidade; contos com temas sugestivos atraindo à leitura. Por essas razões, considerei um livro muito bom.
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comprar o livro.
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