18 de fevereiro de 2013

Meus Contos:


Lá vai, para vocês, mais um dos meus Contos, espero que gostem...



Um belo dia, ele, um rapaz esforçado e muito dedicado ao trabalho, mas nem por isso contente ou agradado com a “vidinha” extenuante e enfadonha que levava, trabalhava normalmente – fazia sua obrigação, já que não tinha outra opção.
Era um dia quente de muito calor, – mais ou menos aí pela hora do almoço da maioria dos funcionários da empresa, mas não dele, não era horário dele; mesmo não tendo nada pra fazer naquela hora, sua função obrigava ficar por lá, – no meio da fábrica. Um dia tão quente e abafado que o suor molhava os cabelos debaixo do capacete de segurança e lhe corria pelo rosto; sem falar na camisa grudada ao corpo pelo suor que parecia banhá-lo.
Apesar de estar dentro das amplas instalações da fábrica, ouvindo ruídos intermitentes e ensurdecedores vindos dos outros setores, o setor dele – pelo horário, parecia às moscas, – só ele por lá.
Trabalhava em uma metalúrgica e o setor dele, pela atividade, era naturalmente quente, o que, somado ao calor do dia, tornava tudo insuportável, fazendo-o até bufar ofegante de tanto calor; com isso, ele já pensou em buscar algum canto – algum lugar, onde pudesse amenizar aquela sensação desagradável e incômoda. Assim, lá foi ele buscar sentar-se em um canto qualquer – o mais ventilado possível...
Os minutos passavam e ele sentado, se abanando ofegante, ficou pensando nisso, pensando naquilo – matutando as “coisas” da vida, e assim ia...
De repente, de tão entretido divagando com os pensamentos, até tomou um susto quando ouviu o som da campainha de alerta do interfone; de onde estava ele virou e viu o acender intermitente da luz de alerta, presa bem no alto de uma parede, ouvindo junto o som estridente da campainha. Como não havia ninguém por lá, muito contra vontade, sem nenhuma disposição e muito menos ânimo, ele levantou e foi atender.
Tirou o fone do gancho irritado e, sem olhar pra canto nenhum, atendeu em tom seco:
— Alô.
Do outro lado:
— Oi, posso falar com você Carlos? – perguntou alguém com voz agradável em tom afável. 
Ele estranhou muito, ficou atônito – admirado, não estava acostumado ouvir voz feminina naquele lugar, aliás, nunca ouviu, era de estranhar lhe pondo até dúvida se estava ouvindo direito ou não, já exclamando perplexo:
— Falar comigo?... Quem quer falar comigo?
Perguntou e ouviu, soando aos ouvidos com se fora música celestial tocada por anjos, ela responder:
— Você não me conhece, sou Sonia e trabalho em outro setor. – disse a moça que ele realmente não fazia nem ideia de quem pudesse ser.
— Não lhe conheço?... – exclamou espantado e admirado continuou. E você me conhece de onde?...
— Daqui mesmo. – respondeu ela com naturalidade lhe deixando mais confuso.
— Daqui mesmo?... Como assim?...
— Conheço de vista, lhe vejo sempre. Você é que só têm olhos pras outras e não me vê quando por mim passa.
— Ah é?... – exclamou em tom de zombaria e complementou externando curiosidade. Mas o que você deseja?
— Eu gostaria muito, Carlos, muito mesmo, de poder conhecê-lo. Tanto que aproveitei meu intervalo de almoço para lhe telefonar. Desculpe minha ousadia!   
Enquanto a moça falava ele matutava com seus botões:
“Ué, como ela sabe que fui eu quem atendeu? Que negócio esse?”.
Imaginando isso, sem muito pensar, olhando pra frente – para o pavilhão da fábrica, com o fone em um ouvido e outro sendo tapado com o dedo para poder ouvir melhor, ele muito curioso com o inusitado, nem sequer se virou pra falar:
— Quer me conhecer, é?... E como sabia que era eu quem atendeu? – perguntou em tom zombeteiro achando que ironizava, porém percebeu sua inocência – sua infantilidade, quando ela respondeu:
— Porque estou lhe vendo, ora essa! – disse a moça que, pelo tom, ria dele.
Ele atônito, – sentiu até tontura, exclamando incrédulo:
— Me vendo?... Como assim me vendo?
— Estou aqui em cima no escritório... – falou ela dando impressão pelo tom que continuava rindo.
Ao ouvir, subitamente, até assustado, ele se virou e ficou abestalhado – zonzo, sentindo arrepios correndo pelo corpo, ao ver no alto – no segundo andar do escritório vazio – através de uma grande janela envidraçada, uma moça em pé com o fone no ouvido lhe olhando, permitindo a ele, apesar da distância, vislumbrar a silhueta e os traços formosos de uma bela mulher; encantado, engasgado com a visão e admirado com o inusitado, ele ficou estático com o fone no ouvido sem saber o que dizer, olhando pra ela com cara de retardado. Ela, percebendo o espanto que causou, não perdeu tempo.
— Sabe?... Meu intervalo de almoço já está acabando. Será que eu posso ligar mais tarde pra você do meu setor e tentarmos marcar um dia para nos conhecermos? – perguntou ela num tom que lhe arrepiou ainda mais, – arrepiou até os ossos ouvir sua voz meiga.       
Depois de tudo aquilo, o que ele ia responder? Que não?... Ora, ele podia ser tudo menos burro. Já muito atraído e sentindo extremo desejo motivado pela curiosidade, ficaria até de joelhos, se preciso fosse, defronte ao telefone aguardando tocar, assim, sem nenhuma dúvida disso, ele respondeu simplesmente:
— Pode!
— Então, tá bom! – disse ela. Mais tarde eu ligo. Tchau!
Ouvindo o “tchau” mais lindo que ouviu na vida, abobalhado, atordoado, complemente engasgado pela emoção, e a voz nem saindo direito, ele retribuiu:
— Tchau! – disse e ficou observando deslumbrado, como um encantado, ela colocar o fone no gancho e, em seguida, desaparecer de vista.     
Mal sabia ele, que aquela era a primeira vez que ouvia a voz daquela que viria ser sua grande paixão; a mulher, dentre todas, mais formosa, sensual e exuberantemente bela; terna, amorosa, carinhosa e meiga que um dia ele teria nos braços, que lhe cobriria de afetos e de carícias desmedidas sem igual.
Mesmo não sabendo, ainda, disso tudo, uma coisa ele admitia e não podia negar: aquele dia de calor sufocante e insuportável se transformava em um dia maravilhoso, o mais belo e inolvidável deles pela agradável e inesperada surpresa, – surpresa estonteante...    
J.R.Viviani


 * * *