Lá vai, para vocês, mais um dos meus
Contos, espero que gostem...
Um belo dia, ele, um rapaz esforçado e
muito dedicado ao trabalho, mas nem por isso contente ou agradado com a
“vidinha” extenuante e enfadonha que levava, trabalhava normalmente – fazia sua
obrigação, já que não tinha outra opção.
Era um dia quente de muito calor, – mais
ou menos aí pela hora do almoço da maioria dos funcionários da empresa, mas não
dele, não era horário dele; mesmo não tendo nada pra fazer naquela hora, sua
função obrigava ficar por lá, – no meio da fábrica. Um dia tão quente e abafado
que o suor molhava os cabelos debaixo do capacete de segurança e lhe corria
pelo rosto; sem falar na camisa grudada ao corpo pelo suor que parecia banhá-lo.
Apesar de estar dentro das amplas
instalações da fábrica, ouvindo ruídos intermitentes e ensurdecedores vindos
dos outros setores, o setor dele – pelo horário, parecia às moscas, – só ele
por lá.
Trabalhava em uma metalúrgica e o setor
dele, pela atividade, era naturalmente quente, o que, somado ao calor do dia,
tornava tudo insuportável, fazendo-o até bufar ofegante de tanto calor; com isso,
ele já pensou em buscar algum canto – algum lugar, onde pudesse amenizar aquela
sensação desagradável e incômoda. Assim, lá foi ele buscar sentar-se em um
canto qualquer – o mais ventilado possível...
Os minutos passavam e ele sentado, se abanando
ofegante, ficou pensando nisso, pensando naquilo – matutando as “coisas” da
vida, e assim ia...
De repente, de tão entretido divagando
com os pensamentos, até tomou um susto quando ouviu o som da campainha de
alerta do interfone; de onde estava ele virou e viu o acender intermitente da
luz de alerta, presa bem no alto de uma parede, ouvindo junto o som estridente
da campainha. Como não havia ninguém por lá, muito contra vontade, sem nenhuma
disposição e muito menos ânimo, ele levantou e foi atender.
Tirou o fone do gancho irritado e, sem
olhar pra canto nenhum, atendeu em tom seco:
— Alô.
Do outro lado:
— Oi, posso falar com você Carlos? –
perguntou alguém com voz agradável em tom afável.
Ele estranhou muito, ficou atônito – admirado,
não estava acostumado ouvir voz feminina naquele lugar, aliás, nunca ouviu, era
de estranhar lhe pondo até dúvida se estava ouvindo direito ou não, já exclamando
perplexo:
— Falar comigo?... Quem quer falar
comigo?
Perguntou e ouviu, soando aos ouvidos
com se fora música celestial tocada por anjos, ela responder:
— Você não me conhece, sou Sonia e
trabalho em outro setor. – disse a moça que ele realmente não fazia nem ideia
de quem pudesse ser.
— Não lhe conheço?... – exclamou
espantado e admirado continuou. E você me conhece de onde?...
— Daqui mesmo. – respondeu ela com
naturalidade lhe deixando mais confuso.
— Daqui mesmo?... Como assim?...
— Conheço de vista, lhe vejo sempre.
Você é que só têm olhos pras outras e não me vê quando por mim passa.
— Ah é?... – exclamou em tom de zombaria
e complementou externando curiosidade. Mas o que você deseja?
— Eu gostaria muito, Carlos, muito
mesmo, de poder conhecê-lo. Tanto que aproveitei meu intervalo de almoço para
lhe telefonar. Desculpe minha ousadia!
Enquanto a moça falava ele matutava com
seus botões:
“Ué, como ela sabe que fui eu quem
atendeu? Que negócio esse?”.
Imaginando isso, sem muito pensar,
olhando pra frente – para o pavilhão da fábrica, com o fone em um ouvido e
outro sendo tapado com o dedo para poder ouvir melhor, ele muito curioso com o
inusitado, nem sequer se virou pra falar:
— Quer me conhecer, é?... E como sabia
que era eu quem atendeu? – perguntou em tom zombeteiro achando que ironizava,
porém percebeu sua inocência – sua infantilidade, quando ela respondeu:
— Porque estou lhe vendo, ora essa! –
disse a moça que, pelo tom, ria dele.
Ele atônito, – sentiu até tontura,
exclamando incrédulo:
— Me vendo?... Como assim me vendo?
— Estou aqui em cima no escritório... –
falou ela dando impressão pelo tom que continuava rindo.
Ao ouvir, subitamente, até assustado,
ele se virou e ficou abestalhado – zonzo, sentindo arrepios correndo pelo
corpo, ao ver no alto – no segundo andar do escritório vazio – através de uma
grande janela envidraçada, uma moça em pé com o fone no ouvido lhe olhando, permitindo
a ele, apesar da distância, vislumbrar a silhueta e os traços formosos de uma
bela mulher; encantado, engasgado com a visão e admirado com o inusitado, ele
ficou estático com o fone no ouvido sem saber o que dizer, olhando pra ela com
cara de retardado. Ela, percebendo o espanto que causou, não perdeu tempo.
— Sabe?... Meu intervalo de almoço já
está acabando. Será que eu posso ligar mais tarde pra você do meu setor e
tentarmos marcar um dia para nos conhecermos? – perguntou ela num tom que lhe
arrepiou ainda mais, – arrepiou até os ossos ouvir sua voz
meiga.
Depois de tudo aquilo, o que ele ia
responder? Que não?... Ora, ele podia ser tudo menos burro. Já muito atraído e
sentindo extremo desejo motivado pela curiosidade, ficaria até de joelhos, se
preciso fosse, defronte ao telefone aguardando tocar, assim, sem nenhuma dúvida
disso, ele respondeu simplesmente:
— Pode!
— Então, tá bom! – disse ela. Mais tarde
eu ligo. Tchau!
Ouvindo o “tchau” mais lindo que ouviu
na vida, abobalhado, atordoado, complemente engasgado pela emoção, e a voz nem
saindo direito, ele retribuiu:
— Tchau! – disse e ficou observando
deslumbrado, como um encantado, ela colocar o fone no gancho e, em seguida,
desaparecer de vista.
Mal sabia ele, que aquela era a primeira
vez que ouvia a voz daquela que viria ser sua grande paixão; a mulher, dentre
todas, mais formosa, sensual e exuberantemente bela; terna, amorosa, carinhosa
e meiga que um dia ele teria nos braços, que lhe cobriria de afetos e de
carícias desmedidas sem igual.
Mesmo não sabendo, ainda, disso tudo,
uma coisa ele admitia e não podia negar: aquele dia de calor sufocante e
insuportável se transformava em um dia maravilhoso, o mais belo e inolvidável
deles pela agradável e inesperada surpresa, – surpresa estonteante...
J.R.Viviani
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