Prezada leitora
e caro leitor, lhes trago mais um dos meus Contos; vamos ao:
Num dado
domingo, muito cedo pela manhã, Antônio acordou muito antes do horário que
costumava, pelo menos aos domingos, – dia em que ele costumava ficar na cama
até mais tarde procurando descansar da semana agitada, corrida e exaustiva que
lhe era habitual ter, porém nesse dia, nem imaginava o porquê, ele caiu da cama
– como se diz.
Admirado
com ele mesmo e estranhando, ele virou pra cá virou lá na cama, tentando dormir
mas nada, continuava acesso... Vendo a esposa ao lado dormindo sono profundo e
apreciando a beleza dela, aos poucos, começou a enjoar-se de estar deitado, com
isso e resolvido, levantou e na ponta dos pés evitando fazer barulho, foi ao
banheiro.
Por ser
muito cedo ainda, ao sair do banheiro, ele desceu os degraus da escadaria que
levava à sala e, ainda tomando cuidado para não fazer barulho, abriu a porta
indo pra fora da casa.
Lá fora,
ele pensava no que fazer: tomar o café antes da esposa e da filha ou esperar
pelas duas? Minutos mais, olhando as coisas no jardim, decidiu espera-las,
todavia, ele sabia que as duas não iam acordar tão cedo, então resolveu
caminhar um pouco e foi até a uma banca de jornais na qual costumava comprar o
seu jornal de domingo.
Nem hora
passou e ele já de volta a casa folheava seu jornal sentado tranquilo na poltrona
da sala quando nisso a esposa apareceu.
―
Querido!... Bom dia!... – disse ela lhe beijando parecendo feliz e continuou falando em tom
admirado. Nem vi você levantar!... Já tomou café?
― Não! – disse ele fechando o jornal e
sorrindo. Esperava por vocês?
― Esperava
por nós?... Que
amoroso você é, querido! – falou acarinhando o rosto dele sorrindo e ainda sorrindo
completou. Mas venha, venha porque a nenê não demora desce. Vamos tomar o nosso café!
Já
sentados à mesa da cozinha os dois tomavam café quando a filha – uma menina dos
seus dez anos, chegou sorridente e foi cumprimentando alegre que só:
― Bom dia,
pai, bom dia, mãe! – falou animada e antes de sentar-se beijou o rosto de cada um
deles.
Feliz por
ver a alegria incontida e notória da filha ele perguntou aos sorrisos:
― Dormiu
bem, filhinha?
A menina,
ajeitando uma coisa e outra e sendo ajudada pela mãe a se servir, respondeu
mais animada ainda:
― Ai,
pai!... Nem pergunte! – afirmou a menina. Como diz a vovó, dormi como uma
pedra. – concluiu rindo e calou-se; e assim ficaram os três calados tomando o
café.
Logo a
seguir, animado com o clima reinante, ele quis agradá-las fazendo um convite a
elas se dirigindo à esposa:
― Querida,
que tal nós irmos hoje almoçar em um restaurante?
A menina
nem deixou que a mãe respondesse interpelando:
―
Boa-ideia, pai! Assim a mãe não precisa ficar cozinhando, não é mãe?
A esposa
sorriu na clara demonstração de ter sido agradada com a sugestão, em seguida,
perguntou se mostrando curiosa:
― Mas em
qual restaurante?
― Estive
lendo as indicações no jornal e um deles me pareceu muito bom; foi bem-recomendado,
elogiado até. – respondeu ele.
― E aonde
fica? –
perguntou a esposa já se mostrando interessada.
― Numa
cidade próxima daqui. – respondeu.
A esposa
torceu o nariz e com cara de reprovação disse:
― Ah...,
mas deve ser muito longe...
Ele
replicou na clara intenção de convencer:
― Não, querida! Pela autoestrada
chegamos em algumas horas e isso passeando. – disse ele.
A menina
interferiu pondo a mão no braço dele.
― O que
servem lá, pai? – perguntou a menina dando a impressão de que estava interessada em ir, o que já lhe animou.
―
Filha!... – disse ele com ar de empolgação. Segundo o jornal, eles são especializados na culinária
portuguesa; dizem que preparam, além de outros pratos típicos, o melhor
bacalhau do mundo...
A menina
olhando de soslaio ficou rindo pra ele e depois disse:
― Será, pai?...
Não
duvidando do propósito da pergunta, ele respondeu também rindo:
― Pra
saber só indo, filha!
Os três
se entreolhavam aos sorrisos e daí a esposa disse:
― Tá bom! Então vamos!
Se
aprontaram e depois de uma hora, não mais, de saírem de casa e trafegarem pela
rodovia, eles chegaram ao local.
Já no
estacionamento – ao estacionar, percebendo a quantidade de automóveis que havia
estacionados ele disse:
― É! Parece que a comida daqui é boa mesmo. Vejam quantos
carros...
Descendo
do carro, a menina curiosa perguntou:
― Por que,
pai?
― Porque
onde têm muita
procura é sinal de comida boa.
A menina
sorriu e não disse nada e nem esposa e foram acompanhando ele...
Já na
entrada a indicação do jornal foi corroborada ratificado a impressão de ser um
ótimo lugar para se comer, pois as dependências sofisticadas, porém sem luxo
excessivo, eram convidativas e atraentes; ambiente amplo, bem-iluminado, mesas
espaçosas e bem-dispostas, cobertas por toalhas de branco impecável, com
arranjos de louças e talheres de fino gosto, além do detalhe requintado: flores
em vasos sobre as mesas davam o retoque, enfim, um lugar extremamente
agradável...
Logo o
maître os recebeu; escolheram a mesa, se sentaram e já com os cardápios nas
mãos escolhiam o que pedir.
O maître,
talvez, por julgar que iam demorar na escolha e também na clara intenção de
deixá-los à vontade, saiu indo atender um casal que chegava.
Nesse
ínterim, entre eles escolherem e o maître retornar, ele pensou:
“Acho que
vou ao toalete, sabe?”
Pensou e
virou pra esposa:
― Querida!
Desculpa, mas eu vou ao toalete. Espere que já volto! – falou e ia levantando
quando a esposa disse:
― Ah, eu
também vou! Não quer ir, filha?
― Eu também quero sim! – respondeu a menina e lá foram os três...
Em
instantes, elas entraram na toalete feminina e ele, lógico, na masculina, mas
antes nem tivesse ido, arrependeu-se no exato momento que abriu a porta só pelo
mau-cheiro que sentiu; passos mais, abriu a porta de um dos reservados e quando
viu a bacia do sanitário não acreditou: uma sujeira sem igual, uma nojeira de
se ver.
Antônio
não soube julgar se aquilo era problema com a descarga, falta de água ou o quê;
de qualquer forma não entrava na cabeça dele, como podia um local que lhe
causou tamanha boa-impressão ter uma toalete naquele estado deplorável? Era
inimaginável. Mas enfim, depois tomar cuidado ao fazer as suas necessidades e
ter nojo até para lavar as mãos, ele retornou à mesa; sentou-se e ficou
aguardando pelas duas.
Ele não
pretendia dizer a elas da má-impressão que teve, seria estragar o almoço das
duas, pois o dele, seguramente, já estava estragado.
Dali a
pouco, as duas chegaram e com elas já sentadas ele perguntou:
― E daí?
As duas
se entreolharam torcendo o nariz e ficaram caladas olhando parecendo não
saberem o que dizer, até que a filha, demostrando sinceridade, falou “sem papas
na língua”:
― Pai, se
depender de mim, podemos ir, aqui eu não como de jeito nenhum...
Rindo e
com cara inocente – como se não soubesse de nada, ele perguntou:
― Mas por
que, filha?
A menina,
ainda torcendo o nariz, respondeu:
― Se você visse a nojeira do banheiro, você também não ia querer comer aqui não!
Concordando
e se dando por resignado sem deixar de lamentar e de estar chateado, ele disse:
―
Desculpa! Eu não imaginava causar tamanha decepção a vocês e nem ser decepcionado, mas, fazer o quê? O banheiro dos homens
também está um nojo.
A mulher
exclamou admirada:
― Lá também, querido?...
Ele olhou
de viés e não torceu o nariz, torceu a boca em claro sinal de lamento dizendo:
― Nem te
falo!...
Ficaram,
por instantes, calados e daí a menina voltou:
― Pai, você não precisa se desculpar! Você não sabia. Vamos pra casa, lá a gente pede uma pizza e tá tudo certo!
― Tá bom! – disse ele.
Nessa
altura, o maître se aproximou e sorrindo perguntou:
― Já escolheram?
― Não! – disse ele. Surgiu um imprevisto
e temos que ir!
― Mas que
pena! – se
expressou o maître em lamento e continuou. Espero que voltem em outra ocasião.
― Com
certeza! – disse ele e, sem mais delongas, levantou, pegou as duas pelas mãos e foi saindo deixando o
restaurante completamente decepcionado.
Moral da história: “Um bom
restaurante não começa pelo ambiente fino e requintado, e sim pela higiene dos
toaletes”.
* * *
Espero
que tenham gostado do Conto. Meu abraço e até mais!
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