21 de novembro de 2012

Meus Contos:


Lá vai pra vocês mais um dos meus Contos. Espero que gostem...





Um jovem muito seguro de si, dedicado com ele mesmo, que até se esquecia de si próprio de tão dedicado com o firme propósito de ser alguém; era como uma obsessão sua busca incontida, desenfreada e contínua de se fazer na vida...
Durante o dia trabalhava dando duro e estudava à noite, mas, como quase tudo acontece na vida, tinha também suas compensações.
Todos os dias da semana levava essa vidinha dura e cansativa, – de esgotar, porém, aos finais de semana, se entregava...
Entregava-se, não somente ao descanso para se recompor e se refazer, mas, aos sábados à noite, entregava-se ao prazer fazendo-o sentir-se vivo de fato...
Aos sábados à noite, porque aos domingos era impossível, – não podia, de jeito nenhum, passar as noites fora, já que nas segundas, logo cedo pela manhã, tinha que ir ao trabalho. Ah..., mas quando chegavam os sábados era, pra ele, deslumbrantemente encantador, – parecia até outra pessoa, que não era o mesmo.
Um jovem bem-apanhado, atraente, charmoso e bonito por assim dizer, tinha sua namorada é lógico e não podia ser diferente, todavia, não era ao lado dela que ele se sentia vivo, era ao lado de outra.
Apesar de sua namorada ser uma jovem bonita, gentil, atenciosa e prendada, – uma moça pra casar, não era bem a ela a quem ele queria; quer dizer, talvez, por ser filha de boa família, – família que o tratava a pão de ló, não sabendo o que fazer para agradá-lo, sua carência afetiva faziam-no ir levando e se iludindo, – fechando os olhos e deixando as coisas correrem...
Entretanto, o coração dele era de outra. O coração dele batia mais forte por uma jovem carinhosa, amorosa, charmosa, de beleza estonteante, provocativa e extremamente sensual, – irresistível, que, por incrível que possa parecer, namorava outro e com ele saía. Namoravam, cada qual, até certa hora das noites dos sábados e depois, o resto da noite até o amanhecer do domingo era com ela que ele ficava.
Todos os finais de semana as coisas se repetiam; chegava ser angustiante, parecia-lhe que as horas não passavam, não via à hora de chegar às dez da noite para deixar a namorada ir ter com a outra. E o pior não era somente isso, o pior era pensar de não encontrá-la, de, por algum motivo, não vê-la e não tê-la. E quando a encontrava, as coisas também se repetiam: sentia-se como uma criança quando ganha um doce, – era encantador, de causar prazer indescritível. Também pudera, o coitado era um apaixonado. É..., um apaixonado, só que não se dava conta disso...
Ele sabia, mais que ninguém, que ela tinha verdadeira adoração por ele, pois as atitudes dela ratificavam isso. Ela não se incomodava dele não ser somente dela e talvez por isso ou acovardada pelo receio de perdê-lo, sabe-se lá? Muito naturalmente, sem o menor constrangimento, depois de namorar ia ao encontro dele como uma abnegada para entregar-se de corpo e alma, – era dele em outras palavras.
O fato de não sentir-se pressionado por ela, era, sem dúvida, o que lhe atraía, pois ela guardava um segredo entre eles, o que era bom por um lado, mas por outro muito ruim, pois lhe dava certo comodismo, achando que podiam sair às escondidas e que tudo seria assim pra sempre...
Tinha consciência de que um dia as coisas acabariam mudando, entretanto, não queira nem pensar nisso. Sua atração por ela era tal, que não permitia raciocinar, – queira tê-la e nada mais...
Os momentos que juntos tinham eram forrados por romantismo embriagador, – sem precedente; cercados de volúpia extasiante se entregavam, invariavelmente, ao um mar de carícias aplacando os desejos sedentos e aos delírios desenfreados da paixão, e assim ia...
O que mais lhe encantava, era, depois de tudo, além de sentir o calor do corpo dela agarrada como fora um carrapato, ver seu semblante de realizada muito feliz e, exaurido, adormecer nos braços dela, sentindo-se amparado, protegido ou coisa parecida, – era inebriante sentir isso.
E assim foi por longo tempo – por anos... Amavam-se às escondidas...
Contudo, por contingências da vida, buscando novas perspectivas de trabalho, ele acabou deixando de vê-la por algum tempo e foi quando tudo aconteceu, transformando sua vida, foi como se recebesse punhaladas dilacerando o coração – só faltando morrer de arrependimento por ter sido tão tolo. Ela, com certeza, cansada do seu comodismo ou talvez desiludida por não ser mais por ele procurada, acabou casando.
Ele – coitado – não soube disso de momento, soube depois de algum tempo da fatídica e inaceitável atitude dela, pois acreditava que ela fosse uma apaixonada assim como ele, e de fato o era, o que, mais algum tempo depois, foi por ela mesma confirmado, confirmado sob a resignação e as lágrimas dos dois...
Mas aí já era tarde, e não adiantava chorar; tarde pra entender e admitir o tamanho da sua tolice e do seu amor por ela, restando-lhe, como consolo, saber que não seria somente ele quem iria tentar viver com o infortúnio, fadado a aceitar pelo resto da vida a amarga desilusão...         
J.R.Viviani
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