SINAL FECHADO
Quando parava no sinal fechado daquele cruzamento lá esta ele, todos os
dias, os maços de rosas apertadinhos em seus cones de papel... todas em botão
ainda, como que tímidas de desabrochar entre a fumaça dos milhares de carros
que trafegavam...
O sinal fechava, e o mesmo ritual se repetia: andava pelo acostamento,
de um carro a outro, sem dizer nada, sem nem mesmo olhar para os motoristas, temendo
talvez aborrecer algum futuro cliente encarando-o nos olhos...nunca o vi fazer
nenhuma venda, e imaginava quantas vezes aqueles pobres botões voltavam com ele
para casa, amanhecendo para mais um dia entre a fuligem e o calor do
asfalto...talvez, como muitos homens, aqueles botões morressem sem nem chegar a
desabrochar...
Eu sempre prometia a mim mesmo comprar dele algumas rosas no dia
seguinte: ao menos uma vez dar e ele a satisfação de uma venda, e saber se
aquele rosto sabia sorrir. Por momento, e num ato simples e nada
extraordinário, dar a ele a certeza de que não era invisível, ponto de carne e
osso entre as feras de metal...
Perguntaria então, talvez, seu nome, e ele teria pra mim significado não
mais o homem das rosas, um homem, alguém qualquer, mas o seu Pontes que ocupa
um lugar no mundo e se orgulha daquilo que faz, fazendo porventura o que pode,
o que lhe coube, nesta terra em que escolhas são um luxo para a maioria...
Mas nunca comprei rosas... a mente ocupada demais pra lembrar, a timidez
de abrir o vidro e encarar o rosto sério e moreno do sol de quarenta graus, mil
motivos miúdos pra cercear um ato simples e nada extraordinário, mas que ainda
assim jamais veio à luz do mundo.
E um dia, enfim, ele não mais estava lá... nem no outro, ou no
seguinte... talvez nem mais estivesse nesse mundo, partira, pra não mais voltar
nem vender rosas, ou talvez cansara do asfalto fervente, ou a doença o
capturou... mas isso eu nunca saberia, nem saberei seu nome, nem nunca mais
comprarei rosas daquelas mãos nem saberei se sabia sorrir: o momento passou, eu
não o aproveitei, e o somei aos muitos iguais a esses numa pilha de minha
memória... e então, de repente, me veio uma vontade imensa de plantar uma
roseira...
★ ★ ★ ★ ★
Bíndi
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41 comentários:
poderoso texto!
Olá Bindi!Maravilhoso conto!ás vezes nos deparamos com fatos que no momento nos parecem não tão importantes,mas se conseguirmos plantar aquilo que não pudemos fazer no passado,ainda haverá tempo de fazê-lo e nos prepararmos para a colheita.
Parabens ao casal,já sou seguidora de vocês há tempo.
Bjs.
Carmen Lúcia
Olá Bindi
Agora não adianta plantar uma roseira, ele não estará para colhê-las e vendê-las entre os carros enferrujados.
O personagem dessa história haverá de aprender que devemos fazer o que temos vontade, pois amanhã poderá ser tarde.
Lindo conto
Beijos
Lua Singular
Bom dia
EXCELENTE TEXTO
Cristovam
Olá Bindi,
Que roseiras sejam plantadas no seu coração...
Emocionante!
Abçs
Olá Bindi! Um belo conto! Com um finalzinho triste ,mais é coisas da vida corrida que temos. Gostei muito.
Bjs,
Maria Machado
Un cuento excelente y lleno de moraleja, que nos incita a la Reflexión.
Un saludo.
Olá Ricardo, agradecemos a sua consideração e gentileza! Um grande abraço!
Bíndi e Ghost
Oi Carmen! Pois é, se formos pensar bem, a vida é feita de pequenos gestos...poucas são as ocasiões para atos grandiosos, então, se não estivermos atentos, deixaremos escapar situações em que o gesto humilde faria uma grande diferença na vida de alguém...
Obrigado pelo comentário!
Abraços
Bíndi e Ghost
É assim mesmo, Dorli...o único tempo que temos é o agora, este momento único em que podemos agir. A roseira, é claro, servirá para os outros vendedores de rosas...mas para aquele, nunca mais.
Abraços!
Bíndi e Ghost
Olá Cristovam, prazer em conhecê-lo e receber a sua gentil visita em nosso conto...abraços!
Bíndi e Ghost
Escritora de Artes, que assim seja, e que estas roseiras possam trazer um pouquinho de perfume a quem me cerca...obrigado pela gentileza!
Bíndi e Ghost
Olá Maria Machado! Pois é, às vezes há finais tristes na vida...mas podem ser aproveitados para aprendizagem, pois a ignorância é a maior geradora de sofrimentos...agradecemos a sua visita!
Abraços!
Bíndi e Ghost
Oi Pedro Luis, prazer em conhecê-lo, e tê-lo por aqui nos prestigiando...um abraço e um obrigado pelo seu incentivo.
Abraços!
Bíndi e Ghost
Boa noite!
Parabens peobelo trabalho.
vera portella
Olá Bindi, seu conto é maravilhoso!
De fato, por vezes nos escapam situações que não mais se repetem e não há volta....
Parabéns, um prazer te ler! Bjs.
Olá meu amigo Bindi, muito bom o teu conto. Viajei por ele lembrando também de como a gente deixa na vida os momentos passarrem, pois quando surgem não os valorizamos e nem damos a ele a importância devida. Os momentos são únicos e dificimente se repetem. Beijos meu querido amigo e até!! Suzana.
Olá, Bindi!
Em virtude da azáfama que a modernidade nos impõe, muitos, como o vendedor de flores são invisíveis ao olhos comuns.
O conto nos faz refletir sobre a vida insensível e egoísta que levamos hoje.
O texto está muito bem tramado e escrito. Sem deixar de citar que sua narrativa é magnífica.
Parabéns pelo talento e pelo brilhantismo que deu ao participar deste evento indelével do bom amigo Viviani!
Abraços.
Meu anjinho lindo, eu sei que por detrás das palavras escritas nesse texto, tem um sentimento puro e luminoso, viajante das estrelas, lugares da alma e do amor...vens trazer um pedacinho do céu em que habitas para nós. Vc é minha luz, minha inspiração e meu sorriso, brisa de meu despertar, sol do meu horizonte. Nada posso acrescentar ao que os amigos tão queridos já disseram, pois conhecendo teu coração e tua alma, sei que és toda luz e amor.
Mas devo dizer-te de meu orgulho e de minha alegria por te amar e poder conviver com essa mulher linda e luminosa que vc é...eu amo muito vc, meu amor!!!
Ghost
Um texto que é como uma pedrada no charco da nossa indiferença.
Levamos a vida a sonhar fazer coisas que por um ou outro motivo nunca fazemos. Depois surge um sentimento de insatisfação, de querer voltar atrás mas salvo honrosas excepções é tarde demais. Em Portugal, existe um ditado popular, que diz "Não guardes para amanhã o que podes fazer hoje"
Um abraço
Agradeço a sua gentileza, Verinha! Um lindo dia pra vc.
Abraço
Bíndi e Ghost
Oi Vilma, na correria cotidiana, quantos momentos de alegria deixamos de compartilhar...quanta pequenina paz deixamos de conceder e receber...mas estamos aprendendo sempre, é a nossa esperança de melhores dias...
Um abraço!
Bíndi e Ghost
Olá Suzana!
Talvez tenhamos outras oportunidades...talvez não...pois cada momento é único, mesmo num rio que corre, é sempre outra água a passar, jamais molhamos os pés duas vezes no mesmo rio, não é...
Obrigada pela sua gentileza (sou menina, rsrs...)
Abraço!
Bíndi e Ghost
Olá Bento Sales!
Assim é, amigo, temos grande saber tecnológico, mas ainda somos carentes de sabedoria...agradeço muito o seu incentivo!
Abraço
Bíndi e Ghost
Ghost, meu amado companheiro, vc sabe que a minha inspiração é vc...pelo que vc faz, pelo que vc é, só posso te agradecer por estar em minha vida! Te amo muito, minha paz!
Beijos carinhosos
Bíndi
Oi Elvira! Este ditado existe também no Brasil, mas infelizmente, mesmo na pressa em que se vive, as coisas que fazemos hoje atendem mais aos nossos interesses materiais que espirituais...
Um abraço, obrigado por seu gentil comentário!
Bíndi e Ghost
Belíssimo texto que nos abrem os olhos para a frieza que muitas das vezes se isola com mil desculpas para não ajudar o próximo!
Encantada!
Aplausos
Um grande abraço!
É assim mesmo, Dany... Madre Tereza de Calcutá bem disse que “por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.”
Estas palavras de gentileza aqui mesmo, neste pequeno espaço da internet, mostram que estas gotas poderiam ser multiplicadas, em bela fraternidade.
Obrigado pelo comentário!
Bíndi e Ghost
Parabéns pelo belo texto!
Magnânimo!
Abraços literários.
Olá Bíndi \o/
Gostei muito do seu texto.
Há muitas pessoas 'invisíveis' para a sociedade.Fato.
Você não o abordou,mas pelo menos o enxergou...
Abraços!
Adorei o seu texto, bem escrito, lindo e comovente. Parabéns. Abraços
Oi Bíndi
Um texto comovente. As oportunidades perdidas jamais poderão ser recuperadas e costumam deixar um sabor amargo em nosso coração.
Parabéns pela tessitura e criatividade.
Um abraço
Gracita
Olá Dídimo, obrigado pela gentileza!
Abraços
Bíndi e Ghost
Oi Clau! Apesar da história em questão não ter acontecido comigo, certamente muitas vezes deixei passar oportunidades, aguardando um momento melhor, que nunca veio...a vida ensina!
Um abraço!
Bíndi e Ghost
Abraços, Maria da Fonte! Comovem-me os pequenos incidentes cotidianos que deixamos pra lá como insignificantes...há tantos mistérios em toda a vida que brota nesta terra...
Obrigado pela gentileza.
Bíndi e Ghost
Assim é, amiga Gracita, há que olharmos nos olhos das pessoas, reconhecendo o outro que ali está...esta a verdadeira fraternidade...
Um abraço!
Bíndi e Ghost
Ola Bindi
É bem do cotidiano deixarmos passar momentos que poderia ser bem diferente. Mas por circustancias da vida passam e nao retornam.
Otimo como tudo que escreves!
Parabens!
Beijos!
É uma boa temática esta e muito bem explorada. Quantas vezes de facto, a mente está demasiado ocupada para fazer o que queremos...?
Parabéns pela participação!
Abraço
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