O Cruzado
Há muito, muito tempo atrás
existiu um jovem Cruzado muito forte e corajoso. Era um bom guerreiro,
cumpridor de todas as ordens e missões que os seus superiores lhe ordenavam.
Gostava de lutar e conquistar, era um bom companheiro de armas e nunca
abandonava nenhum dos seus companheiros.
Após as missões cumpridas com
bravura, os chefes davam-lhe algum tempo para descansar e para estar com a sua
família. Porém, além de mulher e um filho, ele tinha uma amante muito fogosa.
Assim, raramente estava com a esposa. Apesar de a amar muito, não sabia muito
bem como havia de lhe demonstrar seus sentimentos. Não era muito conversador e
nem sabia o que falar. Entendia-se melhor com ela debaixo dos lençóis, na cama.
Durante o dia, tratava das suas terras, dos animais e reparava o que havia para
fazer. Muito trabalho, só regressava ao castelo quando a noite caía. Para ele
esta vida era muito monótona, estava mais à vontade no campo de batalha. Fora
por esse motivo que se tornara Cruzado, não era pela Fé, mas antes para fugir
aos trabalhos da quinta.
A sua esposa era uma mulher muito
doce, muito jovem e muito crente em Deus, mas também era muito tímida e não
sabia o que dizer ao seu marido. Fora educada para não falar muito, para não se
expor para manter o recato, para ser uma boa mãe e boa esposa. Em suma, fora
educada para o servir.
E de fato assim o era, muito
ligada ao filho. Cuidava, alimentava, mimava e brincava com o menino. Ele
apreciava as qualidades dela e gostava de ter mais jeito com a criança, mas
como tinha tido uma infância muito dura por um pai muito severo e nunca
recebera amor, tinha dificuldade em ser espontâneo e com as questões
emocionais.
Quando o marido estava em casa,
andava muito feliz e tentava estar o mais tempo possível com ele. Queria
agradá-lo e quando ele ia trabalhar lá para fora, ela ia para a janela bordar
ou coser alguma coisa, mas não o perdia de vista. Ao jantar, tinha sempre a
refeição dele pronta a horas e a comida que ele mais gostava. Porém, ele
parecia não apreciar nada daquilo e ela sentia-se triste. Mas quando faziam
amor, ele era muito diferente, muito carinhoso, dedicado e só parava quando ela
estava plenamente saciada. Ele era muito perspicaz e através do olhar que ela
lhe mostrava, sabia que estava satisfeita. Era um ótimo amante.
Quando ele partia para as missões,
ela sofria muito mas na despedida mostrava-se forte. Não queria que ele a visse
chorar, não queria preocupa-lo. Ela era muito religiosa, temente a Deus e
rezava muito pelo marido. Rezava para que nada de mal lhe acontecesse e para
que estivesse sempre são e salvo. Como ela o amava…
No entanto, ele achava-a fria de
sentimentos. Porque não chorava ela quando ele partia nas suas missões,
interrogava-se ele. “Não me ama…”, concluía por fim. Tinha sido devido a suas
incertezas, que arranjara uma amante. Esta, era completamente diferente da sua
esposa, mais extrovertida, comunicativa, misteriosa, sensual, sedutora e muito
ardente na cama. Faziam sexo a qualquer hora do dia e muitas vezes, mesmo
durante a noite. Esta era mais insaciável e tomava muito a iniciativa. Não era
necessário que chegasse a noite e variavam muito as posições. Isto
agradava-lhe, o sexo com ela era absolutamente fenomenal, selvagem! Ela
satisfazia todos os seus caprichos. Por isso, ele ia-se embora de casa mais
cedo e de forma imprevisível para ir ter com a amante… Mas não a amava, tudo o
que sentia por ela era um intenso desejo sexual. Ela gostava dele, mas também não
o amava, embora ele acreditasse que sim.
Certo dia, no regresso ao
acampamento e após deixar a amante sentiu-se vazio interiormente. E foi nesse
mesmo dia que a sua vida deu uma volta de 180º. Naquela batalha os Cruzados
foram surpreendidos por um inimigo poderoso, com um vasto exército e foi um autêntico
massacre. Ele foi um dos poucos que sobreviveram e ao perceber isso, começou a
pensar na sua vida e questionou-se acerca da sua existência humana. Desesperado
e a chorar como uma criança, espetou a espada no chão e caiu de joelhos,
olhando para o céu negro de braços abertos e gritou para Deus a plenos pulmões:
“Porquê???”
Chovia torrencialmente e
subitamente ocorreu um enorme trovão e Deus falou com ele. Disse-lhe: “sobreviveste
porque foi-te dada uma segunda oportunidade para cumprires a tua missão
terrena. Tem fé! Escuta a tua voz interior e muda de vida.” E Deus calou-se.
Ele pensou na vida que tinha tido
até àquele dia. Pensou na família, na sua maravilhosa e linda esposa, no filho
que tinha os olhos da sua mulher mas que era tão parecido com ele. E pensou na
sua amante, na sua vida de Cruzado. Que sentido fazia aquilo tudo? Que deveria
fazer para mudar a sua vida?? Então, no seu espírito surgiu a Luz e ele
despertou para a sua verdadeira missão. Agarrou na sua espada e montando o
cavalo foi para casa, para junto da sua família. Mulher e filho correram para
ele para acolherem-no de braços abertos. Finalmente sentiu-se amado pela sua
esposa, sentiu-se feliz e compreendeu que estava vivo, como se tivesse
renascido das cinzas como uma Fênix. Afinal, o que é uma vida sem Fé e sem
família?
“Um vazio”, concluiu cheio de Fé
em Deus e olhando para o céu.
★ ★ ★ ★ ★
Cris Henriques
Direitos Autorais Reservados
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22 comentários:
Olá poetisa Cris
Seu conto é digno de aplausos e reverência.
Fiquei abestalhada com tamanha criatividade e coerência que lhe é peculiar.
Um conto de louvor!
Um beijo
Lua Singular
Bom dia meu peixinho de água doce!!!!!!
vejo que CONTOS E PROSAS está muito bom,vai te dar um lucro grandioso na literatura.Como te conheço,sei que que crias mil ideias em cima dos amigos que escreve...
Vc está de parabéns pela criatividade de criar esse cantinho que cresce a cada dia.
Mas deixa eu te fazer mais uma vez um convite.
Essa é a terceira vez que venho te buscar pra tomar um café comigo no meu cantinho.Se não fores perderás de sentar na minha frente,rsrsrsrsrsrsrsrs
Bjs de final de semana !!!!!!
Olá Cris,
Um conto instigante e bem escrito, parabéns!
Abçs
Olá Cris!Como é bom renascer das cinzas e voltar ao convívio familiar.
Lindo conto!Visitarei seu blog com certeza!
Bjs.
Carmen Lúcia
Un cuento asombroso y lleno de belleza, con ese ambiente enigmático de los cruzados templarios.
Abraços.
Adorei Cris meus parabéns um dos seus melhores escritos.
Vindo aqui contemplar a beleza em poesia e desejar-te um belo fim de semana
Olá Cris! Uma criatividade excelente, é um belo conto! Parabéns!
Boa tarde...Abraços
Maria Machado
OLÀ!
Estou simplesmente deslumbrada...
Parabens e aplausos...de pé!!!
vera portella
Às vezes é necessário o encontro com a morte para olharmos para o nosso interior e vermos o vazio que nele existe. Estejamos nós numa batalha nium emprego ou em casa.
Gostei.
Um abraço
Também adorei seu conto Cris. Tantos como o seu personagem tem uma família maravilhosa e não dão valor... Mas Deus sempre nos dá a oportunidade para corrigir nossos erros. Lindo o final. Um bj pra ti e muito sucesso.
Oi Cris :)
Eu adorei seu conto.Bem escrito e reflexivo.
Gostei muito dessa parte que Deus fala com ele:
'Tem fé.Escuta a tua voz interior e muda de vida.'
E ainda bem que ele obedeceu...
Bjs!
Por vezes recebemos de Deus uma segunda chance, nem sempre para corrigir o incorrigível mas para tentarmos acertar os novos passos.
Parabens a autora pela bela participaçao!
Gostei muito!
Abraços!
Olá a todos os que gostaram e que comentam o conto.
Visitarei a todos vocês nos vossos blogs atempadamente e comentarei, respondendo.
Muito obrigada a todos e principalmente ao amigo J. R. Viviani.
Abraços,
Cris Henriques
http://oqueomeucoracaodiz.blogspot.com
Belo conto Cris. Muito bem escrito! Beijos, Suzana. (www.sfersete.blogspot.com.br - VIVENDO A VIDA ASSIMA...)
Olá, amiga Cris!
Seu conto está magnífico.
Com epílogo surpreendente e feliz, melhor ainda.
Você tem boa narrativa e ótima linguagem, além de exímio talento prosaico e gramática admirável, ingredientes que fizeram conto de grande valor literário.
Parabéns pela excelente participação neste evento oportuno e democrático, planejado e organizado pelo bom amigo Viviani!
Abraços.
Andei a folhear todas as páginas e me deletei com maravilhosos escritos. Parabéns J.R. por esta iniciativa. Louvável. E parabéns a todos os escrevinhadores de palavras que por aqui deixam pegadas profundas. Beijos no coração de todos.
OLá Amigo J.R.!
Outro conto surpreendente!
Quantas pessoas as vezes não valorizam o lar!?
Este conto nos faz refletir e muito!
Aplausos!
Um grande abraço!
Um conto narrado de forma cativante. Uma bela reflexão sobre a vida à dois.
Olá Cris, maravilhoso conto da era medieval. Adoro !!!Parabéns pela criatividade!Beijos!!
Parabéns à Cris pelo conto lindo e ao Viviani pelo evento. Abraços do Bicho do Mato.
Olá, Cris.
Eu já havia lido este belo conto em seu blog, parabéns.
Abraço.
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