Olá minhas amigas e
meus amigos, hoje lhes apresento outro Conto de minha autoria, vamos a ele:
Era o que achava “Lambari”, um rapaz assim chamado pelos mais
íntimos, apelido que ganhou quando garoto por ser um menino ágil, astuto e
muito esperto como o peixe de boca pequena, – difícil de ser fisgado no anzol.
Um rapaz dos seus vinte e cinco pra mais, franzino e magrelo, moreno claro,
cabelos pretos encaracolados, rosto alongado, barba sempre por fazer, nariz
fino proeminente parecendo um abridor de lata, – feio de dar dó.
Um mineiro que, como tantos outros, migrou para São Paulo em busca
de oportunidades, e morava numa pensão na qual muitos dos seus conterrâneos moravam
atraídos pelos amigos da mesma cidade de origem ou das próximas.
Apesar do seu porte e aparência nada atrativos, era um sujeito
benquisto por todos, principalmente pelas mulheres, pois era um rapaz educado,
extrovertido, sempre sorridente, alegre – de bem com a vida. Não havia quem não
gostasse do “Lambari”, – ele era, pela simpatia, por demais querido.
Num domingo daqueles, pela manhã, “Lambari” saiu da pensão para o
trabalho, – trabalhava em turno de revezamento. Era um pouco cedo ainda, e ele
resolveu dar uma passada no bar que ficava no caminho da empresa que trabalhava.
No bairro que morava, – um bairro industrial, limítrofe e nos
arrabaldes da Capital, existiam muitos bares, todavia ele frequentava um em
especial, que, apesar de ser um bar decadente, malconservado com poucas mesas,
o dono era um mineiro, e era onde, aos domingos, virava ponto de encontro da
mineirada.
Ele chegou com o propósito de “matar o tempo” e encostou-se ao
balcão, nisso, imediatamente foi percebido e das mesas dois amigos seus lhe
chamaram aos brados:
— Ô Lambari..., chega pra cá!... Vem tomar uma cerveja com a
gente... – disse Antunes sentado junto de Antônio que também lhe chamou com seu
vozeirão e jeito característico – como sempre falando alto e gesticulando.
— É, Lambari..., vem sentar com a gente...
Ele não teve dúvida e foi até eles; se aproximou aos sorrisos,
puxou uma cadeira e sentou já ouvindo:
— E aí, Lambari, como é que você tá? Toma cerveja com gente! –
disse Antunes.
— Não, obrigado! – disse ele. Vou trabalhar.
— Trabalhar?... – exclamou Antônio. Tenho até pena de você, viu!
— Ora! Pena por quê? – perguntou Lambari rindo.
— Você ainda pergunta?... Trabalhar num domingo como esse? –
complementou Antônio.
Antunes interpelou.
— É mesmo, Lambari, Antônio tem razão!... Todo mundo aproveitando
o domingo e você vai trabalhar?
— É..., mas eu gosto! – disse ele com muita naturalidade.
Os dois se puseram aos risos e Antunes perguntou com ar de deboche:
— Como você pode gostar de uma vidinha dessas, Lambari? Só você
mesmo!... Onde já se viu?... Que bela desculpa! Gosta por quê?... – terminou de
falar rindo de se esborrachar.
Ele se irritou com a zombaria e respondeu rindo:
— Gosto porque vivo mais que vocês, seus trouxas!
Antônio não se conformou com o que ele falou e retrucou:
— Que vive mais, o quê? Deixa de conversa Lambari... Trouxa é
você, que trabalha cada semana num horário.
— Por isso mesmo eu vivo mais que vocês. – afirmou ele.
— Como assim? – perguntou Antunes aos risos irônicos.
— Vocês têm, quando muito, o domingo pra aproveitar. E da segunda
em diante ficam enfiados no trabalho o dia inteiro. E quando voltam pra casa já
é noite, e não têm tempo pra mais nada. Eu não! Vejam vocês. Amanhã, enquanto
vocês trabalham, eu tenho a manhã todinha livre. Na semana que vem, vou pro
turno da noite e tenho o dia inteiro pra mim. Na outra, vou pro turno da manhã
e tenho a tarde e a noite livres. E vocês?... Vivo mais que vocês, ou não?
Os dois ficaram olhando pra cara dele pensativos conotando dúvida,
e ele rindo dos dois... Dali a pouco, Antunes já mudou a conversa.
— Lambari..., você ainda continua com Dora?
Ao ouvir, Antônio interrompeu.
— Que Dora, Antunes? Que eu saiba ele está com a Carmem. Não está,
Lambari?
Ele voltou rir e falou explicitando satisfação:
— Não amigos, estão enganados! Nem com uma nem com outra. Tô
agora, com a Clara. Vocês conhecem, não conhecem?
— Não me diga?... Aquela “baita” mulher? – exclamou Antunes
admirado.
Antônio nem deixou ele responder se expressando mais admirado
ainda.
— Não acredito?... Com a Clara, Lambari?... Como você consegue
conhecer as mulheres assim?
Demonstrando ter até prazer Lambari respondeu:
— Pra vocês verem... Enquanto os “trouxas” ficam enfiados no
trabalho, eu tenho tempo pra conhecer a mulherada. Agora vou trabalhar. Tchau,
seus “trouxas”! – disse isso, levantou e saiu rindo, deixando os dois lhe olhando
com cara de abestalhados.
Moral da história: “Até
o que é ruim pode ter suas vantagens”.
J.R.Viviani
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