Prezada leitora e caro leitor, é
com satisfação que lhes apresento outro Conto da minha autoria.
Vamos a ele:
Adalberto, um desses tipos comuns
que não tem muito que fazer na vida, – um folgado como tantos outros; solteiro,
com seus quarenta e nove, cinquenta por aí, aposentado precocemente, que
exatamente por não ter o que fazer, buscava, pelo menos, se entreter e ocupar
seu tempo com coisas que pudessem lhe atrair, – tudo sem significância, sem
importância e sem sentido; nada que fosse útil, nem pra ele, muito menos para
os outros.
Sua predileção, para não dizer
vício, era passar horas e horas frente a um computador viajando pela Internet
afora. Não que fosse um alienado, mas era como fosse; abria alguns sites de
notícias, em outros tantos ele pesquisava coisa e outra, aqui e ali, fosse o
que o fosse, coisas que lhe despertavam a atenção simplesmente por despertar,
não que tivessem um propósito, uma finalidade específica, nada disso...
E assim, todo Santo-dia a coisa se
repetia: ele levantava, fazia o que tinha de fazer e lhe era devido e
necessário, porém não mais do que isso; depois, logo em seguida,
invariavelmente, com chinelo nos pés, de bermudão, camiseta folgada – quando
muito um agasalho nos dias frios, aliás, diga-se de passagem, em dias frios nem
o pijama ele tirava – lá ia ele ligar o computador.
Isso tudo era, talvez também –
coitado – por ser sozinho, um zé-ninguém, sem parente ou qualquer pessoa com
quem pudesse conviver e lhe fazer companhia – era um solitário que vivia
dependente dele mesmo.
Exatamente por ter tempo, Adalberto
fuçava a Internet como poucos e para isso, é claro, o computador era pra ele
peça fundamental, pois sem computador nada seria possível.
No entanto, apesar disso, relaxado
como era, não tomava os devidos cuidados no seu uso – não fazia os
procedimentos como deviam ser, o que sempre lhe trazia aborrecimentos...
Bem, mas enfim..., aborrecimentos
que por piores que fossem ele acabava tendo sempre uma válvula de escape que
era, seguramente, com a única pessoa que ele tinha algum contato mais íntimo: o
técnico em informática que lhe prestava assistência e resolvia os seus
problemas...
Entretanto, esse técnico era quem
pagava pelas besteiras que ele fazia, não em espécie, mas em cobrança e
intenções. Era muito comum quando o computador apresentava algum problema ele
esbravejar consigo e xingar culpando o técnico em pensamento e muitas vezes falando
consigo:
─
Aquele desgraçado me
prometeu... E olha aí!... Outra vez esta droga está desligando...
Aquele porra só sabe cobrar?... Vou ligar pra ele já!
Decidido, muito bravo, ele pegava o
telefone e ligava para o técnico. Quando a pessoa atendia, ele já ia soltando
os cachorros:
─ Ô meu!... Tá achado que
tenho cara de trouxa é?
A pessoa assustada com os gritos
dele, sempre perguntava a mesma coisa:
─
O quê?... O que foi que fiz dessa vez?
─
Você disse que arrumou e essa porcaria
está novamente dando problema...
─
Qual problema?
─ Você é um cara de pau mesmo... Tá desligando, seu
porra!
Esse tipo de conversa ele manteve
com o técnico até o dia em que se convenceu em fazer e seguir as suas orientações
e instruções.
Para quem vive usando a Internet é
fundamental usar sempre recursos de limpeza quer seja do navegador quer seja do
próprio sistema, mesmo que tenha um programa de antivírus instalado; pois os
muitos vírus oriundos das viagens pela Internet não são, de início, detectados
pelo antivírus, então é preciso fazer periodicamente uma varredura no sistema –
um escaneamento.
A partir do momento que ele passou
a fazer isso regularmente, os seus problemas foram extintos. Adalberto voltou a
navegar pela blogosfera sem ter mais problemas.
E ele por não ter mais problemas,
já muito mais confiante, passou a fuçar de tudo, desde sites especializados em
pornografia, bate-papo, encontro e namoro entre pessoas, sites de turismo,
sites de culinária – já que ele, por ser sozinho, cozinhava, todavia, o que ele
mais passou a visitar foram sites especializados em literatura ou relacionados
ao gênero literário.
Talvez por ter-se cansado e enjoado
de ver tanta bobagem que não lhe agregava absolutamente nada, Adalberto
adquiriu gosto pela leitura.
Com isso, ele visitava inúmeros
sites; de uns ele gostava de outros não, e assim ia; nesse busca aqui busca
ali, ele já era seguidor assíduo de diversos, dentre os quais muitos eram de
autores: Contistas, Poetas e Poetisas que comumente divulgavam suas criações em
seus sites e blogs.
Um belo dia, lendo as postagens de
um as postagens de outro, acabou descobrindo, através de um desses, o site de
uma Poetisa; ao entrar no site e ler as suas poesias e poemas, Adalberto se
entusiasmou; gostou tanto que acabou, no mesmo dia, além de salvar o link entre
os seus favoritos, de ler quase todas as publicações da autora e assim foi até
mais ou menos pela hora do almoço – quando lhe deu fome, só aí então ele
resolveu parar e desligou o computador.
Todavia, o computador não ficou
desligado por muito tempo, ficou pelo tempo suficiente pra ele preparar alguma
coisa pra comer e logo depois, depois de saciado, ele voltou a ligá-lo.
Ao ligar, de início ele colocou em
site de músicas online pra ouvir música enquanto navegava, – algo a mais para
se distrair, depois foi ver as notícias.
Leu uma notícia aqui leu outra ali
tentando se pôr a par e saber das “coisas”, mas tudo era, pra ele, pura bobagem,
só asneira, então ele resolveu voltar ao blog da Poetisa.
E lá foi ele...
Depois de horas de ler aqui e ali
as postagens, ele comentou consigo:
─ Puxa!... Como essa mulher escreve
bem?... Caramba!... Que criatividade e que inspiração tem essa mulher?...
Meu Deus!...
Pensou falando consigo e continuou
“fuçando” o site da mulher; nisso, ao ler uma postagem antiga, ele se arrepiou
com uma poesia – foi sensibilizado e ficou impressionado com o que leu... E não
aconteceu outra coisa: de imediato, apesar do acanhamento, ele quis postar um
comentário sobre a poesia – emitir a sua opinião.
Todavia, quando foi fazê-lo lhe deu
dúvida no nome da Poetisa, então foi buscar esclarecer no perfil da autora. Ao
fazê-lo, Adalberto já tinha visto é lógico, porém lhe passou despercebido, –
não reparou direto, e ao tentar saber o nome dela bateu outra vez os olhos na
foto da mulher, e aí ele se embasbacou.
─ Nossa Mãe!... Que mulher
bonita?...
Falou com ele e ficou por longo
tempo olhando a foto – nem piscava. Daí a pouco, ele voltou:
─
Mamma mia... Como pode ser tão bonita
assim?...
Olhou, olhou, e daí voltou em
dúvida.
─
Mas, será que é isso mesmo?...
Será que essa foto não é de quando era
nova?... – falou e já concluiu:
─
É!... Vai ver é isso! Deve ser
a foto de quando era nova, vai vê é uma velha que dá até medo e eu fico aqui admirando...
Sou um trouxa mesmo! Vou parar com essa bobeira...
Decidido, desligou o computador e
foi deitar-se – descansar e acabou, mesmo sem querer, dormindo até o dia
seguinte...
Logo ao alvorecer, ele acordou
admirado por ter adormecido de roupa e tudo...
Levantou e, chateado consigo mesmo,
foi se lavar e tomar o café da manhã. Em seguida, como não podia deixar de ser,
ligou o computador.
O engraçado foi que ele não sentiu
nem vontade de ver as notícias como habitualmente fazia logo que ligava, foi
direto ao site da Poetisa. Só depois de tê-lo feito, foi que se perguntou:
─
O que foi?... Estou apaixonado é?...
Falou e começou rir. Não demorou,
voltou:
— Apaixonado eu não sei, mas louco,
com certeza, eu estou, e se não vou ficar logo, logo... Mas também, veja você
que mulher? Dá pra qualquer um ficar apaixonado só em ver, imagine então... –
disse isso e parou de dizer agora realmente imaginando:
“Deve ser uma mulher, além de
linda, culta, criativa e inspirada como vejo, muito gentil e simpática. E
ademais, dá pra ver nos olhos e nesse leve sorriso na expressão, que ela deve
ser meiga e carinhosa...”
Pensou e voltou a falar com ele:
─ Mas vem cá!... Será que não é casada não?...
Perguntou-se e respondeu:
─ É!... É possível que sim! Uma
mulher bonita e inteligente como essa não deve ser solteira.
Coincidentemente, naquele dia ele
tinha que ir ao banco resolver algumas pendências, então desligou o computador,
mudou a roupa e pra lá foi...
Ao chegar ao banco e ficar na fila
do caixa aguardando a sua vez, ele passou a observar os muitos...
Nesse olha um olha outro,
principalmente as simpáticas moças atarefadas atendendo nos caixas, lembranças
lhe vinham em mente... Com as lembranças, de repente, sentiu algo estranho ao
lembra-se da Poetisa; era como se fosse acalentado com a lembrança do rosto da
mulher, sensação prazerosa e gratificante, dando comichão e já não vendo à hora
de voltar...
Naquele dia, assim como nos dias
seguintes, Adalberto não fez outra coisa senão ir ao site da Poetisa e lá se
deslumbrar, agora não mais com as poesias, mas com o devaneio e as fantasias
que lhe vinham ao apreciar a foto da mulher.
Isso foi até o dia em que ele, num
momento de lucidez, concluiu falando pra si:
─
Mas você é um idiota mesmo! E daí se ela é casada ou não é casada. Quem
garante que ela vá gostar e querer você, seu imbecil?
Assim, ele acabou se dando por
conformado e resignado de que tudo não passou de uma grande ilusão...
* * *
Espero que este
Conto lhes tenha sido do agrado; abraço a todos e até a próxima!
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29 comentários:
Olá Viviani
Não consegui desgrudar os olhos da tela pois este conto me fez devanear imaginando o final. Quem sabe o Adalberto ainda possa ter uma bela surpresa. A vida é uma incógnita assim como a continuidade deste belíssimo conto. Parabéns pelo magnífico texto
Um abraço
Segura um solteirão nos dias de hj kkkk
... e como tem "Adalbertos" soltos pela telinhas da internet... E, nem sempre o final é feliz! Ilusões e iludidos se deixam contaminar! Um belo conto, diria até "um aviso aos navegantes"!
Abraço.
Escreves com maestria!! Parabéns!!
Oi querido amigo, vim lhe desejar uma ótima semana, abraços!!
Boa tarde meu amigo..
não é a toa que uma obra minha onde falo muitas coisas sobre os tempos de hj se chama Véus da ilusão..
como bem colocaste..
tudo aqui é uma ilusão.. muitas pessoas acham que a realidade é isso que vemos todo santo dia.. tem muitas realidades edificantes.. abraços e até sempre
Gostei da leitura
Semana feliz
Beijos
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/
Ah que conto tão belo e actual, Viviani!
Quantos Adalbertos não existirão...?
De facto, uma pessoa só, e muito isolada do ponto de vista social poderá ter tendência a encontrar na internet, primeiro uma distracção, depois pode até por mero acaso e como necessidade de ilusão "apaixonar-se" por uma imagem, até por palavras. Tudo uma ilusão, porque nunca se sabe quem verdadeiramente está por trás dessas palavras, ou até de uma fotografia.
Enfim, sinais dos tempos!
Gostei muito. Os seus contos prendem verdadeiramente o leitor.
Boa semana!
xx
OI VIVIANI!
TECESTE UM CONTO ATUAL E REAL POIS ACHO QUE MUITOS ADALBERTOS EXISTEM.
GOSTEI MUITO E O LI DE UM FÔLEGO SÓ.
PARABÉNS AMIGO.
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Cono de altíssima qualidade.
Interessante,,,o que o prendeu foi a alma e a poesia, em princípio...depois foi a matéria, o rosto , o sorriso, a beleza, atributos muito humanos e reais, a força do humano fugindo ao controle da poesia trazendo-o de volta ao mundo real. Acontece!
um abraço
Un Relato muy bonito sobre alguien que sobrevive solo y con la única compañera que es su computadora.
Una Vida monótona y sin ningún aliciente; nada más que una fría pantalla y observar las mismas cosas todos los días, hasta que algo nuevo cambio ese perfil de Vida sedentaria y aburrida.
En cualquier caso; no debería darse por vencido y debería luchar por que esa Ilusión se convirtiera en una dulce Realidad.
Espero y deseo que los Reyes te concedan todos los deseos que has pedido, en especial Salud y Amor.
Abrazos.
Me ha encantado tu historia ,yo he visto una película que la persona vive solo con la voz de su ordenador,siempre es un gusto leerte,saludos
Lindo conto Viviani. O Adalberto é uma prova cabal de que na internet se encontra de tudo. Parabéns!
Abraço!
Alcides
Vim desejar-lhe um lindo dia!
Muito bom seu conto . E muito real... E as pessoas que tratem de ficarem mais espertas!
Abraços JR!
Mariangela
Olá, Viviani!
Certamente história em que outros se poderão rever; condão da Internet, que permite todas as fantsias de acordo com a imaginção e sonhos de cada um...até a verdade ser encontrada.
Bem escrito; gostei de ler.
Um abraço
Vitor
Adotei seu conto, o Adalberto!
Ele é muito engraçado! Coitado do técnico!
Tudo muito lindo!
Adorei meu amigo J.R. Viviane.
Beijinhos.
Boa tarde, existe muitos Adalbertos, que são tão imperfeitos como todos que não são Adalbertos, uma pergunta fica sempre no ar, quem é que está no caminho certo, é o Adalberto ou o não Adalberto? tudo é relativo. Gostei de ler a sua criatividade.
AG
Caro Viviani
Para mim, o conto tem tudo de interessante a prender o leitor. Tem muito de novidade, como seja, o que diz respeito às novas tecnologias de informação. Perfeito!
Abraços
Ao completar 10 anos de blog
não poderia deixar de agradecer pelo seu carinho amizade,
e companheirismo.
Uma década se passou quantas coisas aconteceram,
quantos momentos vividos de pura emoção.
O meu muito obrigada por fazer
parte dessa década vivida...
Seu carinho é muito importante
que eu possa dar continuidade
para seguir sempre em frente...
um feliz e abençoado final de semana.
Evanir.
Ótimo texto para iniciar o ano! Um abraço, feliz 2015!
Bem pode ser uma história da atualidade, bem real. Ou então mais uma ilusão.
Quem sabe?
Só o autor o saberá.
Venha mais...
beijo
Passando pra lhe desejar um ótimo ano, com bastante inspiração positiva pra todos nós, artífices da escrita.
A vida é regada de surpresas, vamos aguardar,amigo!
Bjus e lindo texto!
http://www.elianedelacerda.com
Ótimo conto. Maravilhoso post!
Tenhas um fim de semana abençoado!
Abraços
http://simplesmentelilly.blogspot.com.br/
Oi amigo, lindo conto!!!
Tenha uma ótima semana, abraços e fique com Deus!!
Quantos como ele não existirão por aí...
Gostei muito!
r: Muito, muito obrigada pelas palavras. Seja sempre bem-vindo ao meu blog.
Quanto à música, o mérito é todo dos artistas que as cantam :)
Beijinho*
Adorei. Genial .
Kis :>}
Ah! Muito para ler por aqui. Que bom!
: )
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