Olá
amigos, pela primeira vez, mostro a vocês um Conto por mim escrito há anos
atrás; uma crônica social que está mais para Prosa Novelesca e, portanto, um
tanto longo; por ser longo e não conter capítulos, para tornar a leitura mais
atraente, eu resolvi dividi-lo em três partes. Vamos à primeira parte deste
Conto:
Estamos nos meados da década dos anos sessenta, época conturbada
por movimentos e agitações políticas de diversas ordens e origens; sob-regime
político ferrenho, autoritário e extremamente repressivo de uma ditadura
militar, que além de determinar censura dos meios de comunicação, promovia,
como represália, inúmeras prisões dos prováveis agitadores desagradados e
contra o regime. E foi nessa época confusa politicamente falando, época que
distribuía insegurança e temor, que essa história se passou na vida de Antonio
Carlos, – um jovem dedicado e empenhado em ser alguém na vida...
Com seus vinte e um pra vinte e dois, um rapaz sério, filho mais
velho de gente humilde, com o pai aposentado por problemas de saúde, um irmão
quatro anos mais novo e a mãe dedicada que lavava roupa pra fora para ajudar a
família. Alguém esforçando e muito trabalhador, que desde muito cedo trabalhava
durante o dia e estudava à noite, e que não pensava em outra coisa a não ser
ajudar aos seus e a si próprio é óbvio.
Apesar de ser um rapaz pacífico, que não se metia e nem se
envolvia com movimentos de esquerda, sem, entretanto, ser um alienado, tinha
muita opinião e buscava sempre, de alguma forma, ajudar no que pudesse os
trabalhadores da empresa em que trabalhava e de forma indireta ele, evidente. E
essas ajudas eram determinadas e definidas basicamente através dos
conhecimentos que gradativamente adquiria no meio universitário, já que era um
quartanista do curso de administração e economia, – ele era, em outras
palavras, um jovem esclarecido.
Com isso, com seus conhecimentos, tinha discernimento pra julgar o
que era justo ou não, assim, uma das formas que encontrou para se manter a par
das coisas, foi participar do sindicato de metalúrgicos, – entidade de classe
que representava os interesses dos trabalhadores, não só da sua empresa, mas de
muitas outras mais.
Como ele era um moço sério e interessado, acabou sendo, pelo
sindicato, eleito e nomeado como representante na empresa em que trabalhava, –
um membro do sindicato. Cargo que ocupou pelo período de três anos, pois,
conforme convenção trabalhista, o período não podia ser estendido por mais
tempo. Aliás, diga-se de passagem, durante o período que ele foi membro, era
benquisto e respeitado, não só pelos trabalhadores comuns, mas também por sua
chefia e pelos dirigentes da empresa, já que não era de fazer proposições sem
fundamento ou lógica, com isso, ele era muito conhecido.
Na época de membro, as coisas corriam e ele, raramente – quase
nunca, pedia interferência do sindicato, pois seu interesse era somente se
preocupar, quando necessário, com o que pudesse resolver ali mesmo onde
trabalhava sem envolvimento de mais ninguém; pra isso, era imperativo, depois
de acertado qualquer que fosse o benefício conseguido, regularizá-lo perante a lei
trabalhista, aí sim, o sindicato se envolvia na formalização dos acordos junto
à direção da empresa. Ainda nesse período, como tinha bastante conhecimento
administrativo, acabou ajudando o sindicato no tocante à organização de
arquivos, papelada dos sócios e coisas assim, depois disso, depois que deixou
de ser membro, seu compromisso com o sindicato era o de ser sócio, nada mais do
que isso!
A empresa na qual trabalhava era considerada uma empresa grande,
com seus dois mil funcionários em média, distribuídos nos diversos setores da
fábrica. Antonio Carlos, a despeito do seu nível, – um universitário faltando
pouco para se formar, tinha cargo de encarregado de um dos setores da fábrica e
trabalhava no meio dos operários.
Apesar das dificuldades financeiras que enfrentava para se
sustentar num curso caro de escola particular, além das despesas pessoais e da
imperativa necessidade de ajuda à família, tudo corria bem, e ele não
reclamava. E assim foi, até que um dia algo inesperado e fatídico aconteceu.
Numa dada manhã, fria e chuvosa, por ter deitado muito tarde da
noite ao retornar da faculdade, cansado que só ele, acabou levantando depois do
horário habitual; com isso, preocupadíssimo em não em chegar atrasado à
empresa, saiu correndo de casa, sem ao menos tomar seu café da manhã.
Já na empresa, horas depois, não era seu costume, todavia com
fome, acabou fazendo o que muita gente fazia: ir à cantina que existia dentro
da empresa tomar café e comer alguma coisa.
Ao sair do seu setor e caminhar pelo pátio da empresa em direção à
cantina, ele viu cinco sujeitos isolados como que reunidos a certa distância
dele no meio do pátio. Não os conhecia propriamente, porém, atendendo normas de
segurança interna todos os funcionários eram obrigados a usar capacetes, e pelos
capacetes que usavam, ele facilmente os identificou como membros do sindicato,
o que lhe causou muita estranheza, além do que, pertenciam a setores distintos
que ficavam distantes um do outro. Não parou e muito menos foi até eles,
todavia, caminhava imaginando e exprimindo estranheza.
“Ué?... O que esses caras estão fazendo aí?...”
Pensou e cheio de dúvida continuou até chegar à cantina. Lá,
comendo e tomando seu café, os pensamentos foram desviados...
Momento depois, depois de se saciar, retornou e muito antes de
chegar ao seu setor, coincidentemente, cruzou com um ex-membro do sindicato com
quem tinha relativa amizade, e não teve dúvida, já parou inquirindo o rapaz:
— Olá Manoel, bom dia! Eu vi hoje, logo cedo, cinco membros do
sindicato no meio do pátio conversando. Você os viu e sabe do que tratavam?
— Oi Antonio! Eu não vi não!... Quem era?...
— Não sei dizer, Manoel. Só sei que são membros do sindicato. Será
que está acontecendo alguma coisa e não nos disseram?
— Não!... Acho que não! Se houvesse algo importante nós, com
certeza, saberíamos. Vai ver foi coincidência.
— É!... Pode ser! De qualquer forma, obrigado e bom trabalho pra
você. Tchau!
— Tchau, Antonio Carlos. O mesmo pra você!
Despediram-se e ele retornou ao seu setor, todavia, ainda levando
dúvidas.
Não passaram nem dez minutos, suas dúvidas foram esclarecidas por
Manoel, que entrou afobado e ofegante no seu setor lhe procurando e falando à
boca pequena – sussurrando no ouvido:
— Antônio Carlos, estão armando uma greve...
Ele se espantou exclamando sem se importar se seria ouvido ou não:
— Greve?... Por quê?...
— Não sei! – respondeu Manoel. Ninguém me falou nada. Mas é o
rumor que está havendo. Dizem que vão parar a fábrica.
— Minha nossa!... – disse ele. Por qual razão?
— Não faço ideia! Só sei que o movimento é forte e está muito
organizado, pois, pelo o que ouvi, já começaram a parar alguns setores da
fábrica.
Ele ficou, por momentos, olhando calado e abismado pra Manoel,
dando impressão de meditar, dali a pouco, murmurou:
— Engraçado... Tem algo estranho nisso... – falou e mudando o tom
completou. Por que será que não ficamos sabendo antes? O que eles estão
reivindicando?
— Também não faço ideia. – disse Manoel. Bom, deixa eu voltar pro
meu setor pra ver no que vai dar, qualquer coisa eu lhe aviso. Tchau!
— Tchau, Manoel, obrigado por avisar!
Fim da primeira parte, continua...
________________________________________