18 de julho de 2012

Meus Contos:



EPÍLOGO DO:





O dia amanheceu, assim como foi a noite toda: um silêncio incrível, porém rodava um clima estranho entre os funcionários. Muitos, só pelos semblantes, demonstravam insatisfação e desagrado com a situação...
As horas vão passando, e com todos que pôde falar e ouvir, tanto no seu setor, como nas filas no refeitório e pra baixo e pra cima, a opinião era uma só: não estavam satisfeitos e nem concordando com a greve. Todavia, ninguém abria a boca; aceitavam pacificamente, – sem relutar, o que os líderes da greve impunham e determinavam.
Na opinião de Antônio Carlos, a forma autoritária de imporem suas determinações era um notório sintoma de que aquela greve não era feita pela direção do sindicato coisa nenhuma, e sim por infiltração de elementos com interesses políticos usando os trabalhadores para atingir seus objetivos.
Tudo levava a pensar assim, com sua impressão sendo ratificada pelo que ouviu daquele sujeito, – do estudante de filosofia.
Como o sujeito podia falar em bomba molotov com tanta naturalidade? Para conhecer um artefato bélico daquela ordem, só podia ser um agitador destemido, – capaz de qualquer coisa, que conhecia técnicas de guerrilha e outras mais. E assim como aquele, devia haver – imaginava – muita gente infiltrada no meio dos grevistas. O duro era saber quem era e o que pretendiam...
Era uma época confusa, com muitos indivíduos de extrema-esquerda agindo de forma anônima aqui e ali pelo Brasil afora com sabotagens e atos ilícitos contra o governo; trazendo, em consequência, mortes e mais mortes, prisões e mais prisões, que, além não ser clara suas ações e nem divulgadas as intenções, deixava a população atônita e atemorizada, distribuindo insegurança, pois não se sabia nada do que pretendiam.
O dia foi passando, e a cada minuto, a cada hora, sua impressão ia sendo reforçada: aquilo era muito mais do que uma simples greve trabalhista; tinha algo muito maior atrás daquilo...
A noite chegou enluarada. Com o sentimento claro de que os operários estavam sendo usados para objetivos políticos, ele já pensou em sumir dali... Como conhecia muito bem o terreno da fábrica, sorrateiramente, sem que fosse notado, aproveitando a luz do luar que clareava tudo, ele foi ao um canto do murro que dava para uma rua lateral e isolada, – muito pouco usada. Lá, naquele canto de muro, havia diversas tranqueiras empilhadas o que facilitou ele pular o muro.
Já na calçada da rua, se deu por aliviado, mas isso não bastava e nem lhe dava tranquilidade. Sabia que se fosse pra casa não ia conseguir dormir de preocupação. Receava que fosse, pelas autoridades, confundido como um agitador da greve por ter sido, anos antes, um membro do sindicato. Com isso, ele não tem dúvida e foi ao sindicato com um único objetivo: destruir qualquer possível prova que o incriminasse.
Depois de caminhar muito ele chegou e viu alguns na entrada do prédio conversando; como era conhecido, ninguém estranhou sua presença, assim ele passou naturalmente pelas pessoas e foi entrando indo à sala onde trabalhou no passado.
Já no escritório, ele sabia exatamente onde eram arquivados os documentos dos sócios; mesmo com alguns por lá, ele correu o risco e foi até o armário onde estava a pasta que continha seus documentos e que eram prováveis provas contra ele; sorrateiramente, a retirou e simplesmente a colocou de baixo do braço e foi deixando a sala e o prédio como se nada estivesse acontecendo.
Horas depois, já no quintal da sua casa, ele ateou fogo destruindo tudo, – até a pasta. Aí sim, ele foi dormir tranquilo, pois sem aqueles documentos seria muito difícil o identificarem como um grevista e muito menos como um agitador de esquerda. 
O que ele fez foi ousado e indevido, sem dúvida, mas, pra ele, um ato prudente, pois não podia admitir ser mal-interpretado e correr o risco de não ter como se explicar. 
Dali em diante, com essa lição, e para o resto da vida, ele jamais quis saber de defender causas alheias, pois, quer queira quer não, sempre existem por trás os ladinos que usam e aproveitam das situações e das boas-intenções em benefícios próprios, iludindo, ludibriando, deixando os inocentes bem-intencionados comendo gato por lebre. 
J.R.Viviani

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