6 de janeiro de 2012


ADEUS SOLIDÃO...

Editora: Clube de Autores.
1ª Edição, 2011.
ISBN:  978-85-912892-0-2
Nº de páginas: 345

Sinopse: 
Romance que narra à vida de um solteirão, um engenheiro aposentado, sem ninguém na vida, – sem nenhum parente, que, por fatalidade, movido pela desilusão de um amor não correspondido, por opção, há anos vivia isolado do mundo em uma ilha paradisíaca, habitada somente por caiçaras, – pescadores na sua maioria. Apesar de muito benquisto, rodeado de amigos, vivendo em lugar bucólico de natureza esplendorosa, magnífica, com praias e matas praticamente virgens, de cenário deslumbrante aos olhos, tinha a solidão como sua fiel e dedicada companheira, – quem não lhe largava, trazendo consigo a sua inseparável auxiliar dona melancolia. 
Até que um dia a solidão desapareceu, – lhe abandonou, não dando mais as caras...
Isso aconteceu quando resolveu comprar uma cachorrinha ainda muito novinha pra ser sua companheira e deu a ela o nome de Lady. A partir de então, Lady mudou sua vida completamente; obrigando a solidão ir morar em outro lugar...
Se não bastasse preencher seus dias com alegria e felicidade, dando satisfação e prazer de viver, foi quem, misteriosamente, sem nenhuma explicação, lhe apresentou, por assim dizer, a uma mulher que se tornaria sua amada e grande companheira, ratificando o seu adeus à solidão...




Primeiras páginas. 


Capítulo I

           Nem bem amanheceu, – ainda não são seis horas; no céu de azul ainda opaco, o sol já mostra sua força tingindo em tons de alaranjado forte o branco das poucas nuvens.
                O dia começa quente, sem nenhum vento, – pura calmaria...
                Olhando para o horizonte, onde o mar se funde com o céu e reflete as cores do sol; ainda bocejando e coçando a cabeça de cabelos ralos e brancos, está ele, – observando o cenário, que já lhe é um velho conhecido. Do lado esquerdo à sua frente: a ilhota, cercada por enormes pedras de cores acinzentadas e coberta pela mata de todos os tons de verde. As ondas que batem nas pedras com seu vai e vem ininterrupto, formando espumas brancas que realçam o verde-esmeralda das águas que a circundam.  
   
             Ainda bocejando muito, olha pra direita observando o filete contínuo das ondas que quebram na extensão da praia margeada de mata e poucas casas, e o movimento dos poucos que por lá já estão. Vê tudo de cima; mora no alto do morro em frente à praia, cercado de verde, – no meio da mata. Da janela olha, à sua esquerda, o início do caminho de pedras, que descendo por entre as árvores leva ao mar, e sentindo no silêncio o som intermitente das ondas quebrando; volta o olhar para o horizonte e no céu, distante, vê gaivotas brancas contrastando com o azul nas suas coreografias graciosas como num balé silencioso e contínuo. Parado, apreciando o magnífico espetáculo à sua frente, resolve lavar-se.
                Benedito Siqueira, Bene para alguns e Seu Bene pra maioria; com seus sessenta, engenheiro aposentado e solteiro, sem ninguém, – sozinho na vida; a não ser por um sobrinho que vive no exterior.
                Já sentado tomando seu café, ouve, sonhando acordado, um prelúdio de Bach. Além das marcas do tempo deixadas pelas rugas, sente o peso da solidão com sua força implacável...
                Fica olhando no cavalete a tela recém iniciada, buscando inspiração para continuar a pintura, – sua maior distração. Da mesa da sala onde está: do lado direito, uma estante que cobre a parede forrada de livros; no esquerdo uns sofás todos surrados; no meio o cavalete, e ao pé de uma grande janela que dá vista para o mar, alguns livros amontoados e esparramados pelo chão. Nas suas costas, uma escrivaninha cheia de papéis espalhados e o computador.
                A música termina, – fica pensando no que fazer; está sem motivação pra pintura e tentando buscá-la, veste uma camisa, pega a bengala, e sai, – vai caminhar...
                Homem de estatura média, nem gordo nem magro, branco e de pele queimada pelo sol; com sandália preta nos pés, bermuda cinza claro, camisa branca de manga curta solta e aberta, chapéu panamá branco, de bengala, – só por charme; pelo caminho de pedras, em passos contados, vai descendo.
                A cada instante para e olha: um pássaro, uma trepadeira, uma flor, uma orquídea, uma bromélia, grandes árvores e coqueiros; assim vai descendo devagar, – pisando as pedras lisas, até chegar à praia. Já na praia, procura sair logo da parte fofa e busca a parte mais firme molhada pela água do mar. Com sua bengala furando a areia enquanto caminha, – pelas costas – ouve:
               — Oi, Seu Bene! – disse um menino que de bicicleta por ele passa, olhando e sorrindo.
               — Oi, Carlinhos! – respondeu sorrindo observando o garoto que vai ao seu pedalar lento, – meio que gingando, sumindo pela praia.
               Carlinhos, menino dos seus dez anos, mulatinho, filho de caiçaras, risonho, educado, solícito e prestativo, – sempre o ajudava no que precisava.

 

Capítulo II
 
         
Caminha olhando a areia, as ondas que quebram, as conchas que pelo chão se espalham, o fim da praia onde se encontra com o braço do rio, cuja visão, pela distância, parece acobertada por uma névoa.
              Depois de caminhar por mais alguns minutos, já aparecem algumas casas na orla; passa por um boteco e, de lá, é reconhecido: Manoel, o dono, lhe acena. Daí em diante até a boca do rio, – só mato.
              Continua caminhando na  beirada da água e não demora, no sentido contrário, na parte fofa da areia, vem um menino com seu cachorro. Não conhece o menino, – nunca viu. “Filho de algum turista, talvez.” – imagina. 
              O menino na frente e o cachorro, a bons passos atrás, latindo e correndo pra lá e pra cá, às vezes em direção ao mar e voltando quando é chamado.
              Cachorro pequeno, malhado de branco e preto, – late como que brincando com o garoto; assim vão, até que, pelas costas, se distanciam.
              O cachorro faz lembra-se do seu tempo de garoto, – não que tivesse, mas de um primo que tinha um desses: pequeno, esperto, ágil e dócil, da raça paulistinha. Lembra com saudade e até da inveja que sentia do primo, quando o cachorro mostrava a fidelidade que tinha. Parecia até que, para o cachorro, no mundo só existia o primo; não largava dele, – sempre juntos.
              Quase na boca do rio, onde ficam estalados os barcos de pesca, anda em direção ao píer, pensando no cachorro companheiro do primo.
              Sai da parte firme e já caminha na areia seca e fofa como que se atolando: um pé aqui e outro acolá, – ruim de andar. Dali a instantes sobe os degraus da escada que levam à passarela do píer; bate os pés nas tábuas para remover a areia que, nas sandálias, incomoda. Parado na passarela suspira fundo de cansado levantando a cabeça e vê, ainda ao longe, algumas pessoas, barcos com seus mastros de vela arriados, – amontoados uns aos outros no meio do oceano e outros tantos atracados no cais do porto; mais próximo e no caminho, divisa seu lugar predileto: um banco de madeira; está vazio parecendo esperá-lo, – pra lá vai.
              Sentado, – sentindo o sol quente, tira o chapéu e, com ele na mão, passa o braço na testa tirando o suor que já começa.
              De cima aprecia, à sua frente, a beleza do cenário: o céu de azul intenso, a praia, as enormes ondas que quebram com espumas brancas, tendo ao fundo o mar verde-esmeralda que, mais ao longe, vai se tornando azul-turquesa até se fundir com o horizonte.
              O dia promete ser quente, – já sente muito calor; os raios do sol ardem na pele. Ofegante, desabotoa mais a camisa se abanando com o chapéu, olha pra esquerda vendo algumas pessoas ao longe caminhando pela praia; à direita, – a meia distância, o vai e vem dos que trabalham carregando e descarregando os barcos, – se ajeitando para o dia...
              Em alguns dos barcos, observa os pescadores que retornaram da pesca noturna; ouve o murmurinho animado das conversas, das brincadeiras entre eles e o som dos risos ao descarregarem os balaios de peixes.   
              Olhando pra eles, fica imaginando. “O que devem ter passado na pesca da noite?... Vão longe..., alto mar distante, ondas altas talvez, mesmo com esse mar calmo! E quando revolto como fazem?... Não deve ser fácil! Mas, enfim..., só fazem isso mesmo! Estão acostumados a essa vida! Que vida arriscada levam. Quem os vê, pensa que é fácil, e muitos não lhes dão importância. É..., é assim mesmo, paciência...”
              Entretido e divagando com os pensamentos, ouve um barulho que vai aumentando aos poucos: plac, plac, plac; curioso olha pra trás e vê Carlinhos, que com sua bicicleta, vem, nas peladas gingadas, fazendo o barulho nas tábuas do píer. Nota que vem a seu encontro. Aguardando que chegue, fica sorrindo, – achando engraçado o jeito do menino, pois tem simpatia por ele, gosta muito do menino.
              Carlinhos tenta diminuir a velocidade para parar; o som estridente do breque denuncia que não funciona; com uma das pernas tenta ajudar batendo o pé nas tábuas: pá, pá, pá, e todo sorridente, para. E ao parar, simplesmente larga a bicicleta e, sem mais, senta junto a ele.
              — Seu Bene!... Tomando seu banho de sol?
              — É, Carlinhos, estou sim! – respondeu sorrindo pela satisfação de ouvir a pergunta alegre ingênua e ao mesmo tempo atenciosa.

2 comentários:

Marina Oliveira disse...

Quero muito conhecer essa história também, espero ter a oportunidade. Sou completamente apaixonada por cães, e só por isso já sei que gostarei bastante do livro. *-*
Beeijos

Marina Oliveira
http://distribuindosonhos.blogspot.com

Anônimo disse...

Obrigado pela visita.
Esse livro me parece bem interessante.
Quanto livros você já escreveu?
Estou te seguindo também.