9 de dezembro de 2012

Contos e Prosas - apresenta a criação de:


VESTIDO NEGRO

Parecia um tarde como tantas outras. O verão já havia se despedido.
Iniciava-se uma nova estação, com um vento frio soprando do mar, e trazendo um forte aroma de maresia.
As canoas, adernadas na areia branca, pareciam render-se ao cansaço.
Os pescadores, recolhidos em suas modestas casas, contavam proezas de pescarias. Das chaminés dos fogões à lenha, partia a fumaça que testemunhava a vida em família.
Mas muito próximo, o canto impaciente das gaivotas, lembrava o compromisso do homem com o mar. O velho pescador, obediente, confere os seus pertences, empurra sua pequena embarcação e, auxiliado pelas nervosas ondas, ganha, como sempre, o fraterno abraço do mar aberto.
A busca pelo alimento é desigual. Suas mãos, calejadas pelo remo, e os braços já sem forças, pareciam implorar por uma trégua. Mas o velho pescador não desiste. Foi sua última teimosia...
Na pequena casa, sua companheira de tantos anos, reza por sua volta.
Desta vez, Nossa Senhora dos Navegantes não ouviu as suas preces...
Com a barra da saia, enxuga as lágrimas que brotam das fontes do medo e, agora, da saudade. Levanta-se do pequeno bando, feito com restos de estivas, rebusca o fundo da mala de papelão, e retira o vestido negro que s sua falecida mãe lhe destinou, vestindo-o para sempre.
As gaivotas cobriram de luto as suas asas, e nunca mais exigiram, dos velhos pescadores, a presença no mar...     

Sinval Santos da Silveira
Direitos Autorais Reservados ®

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21 comentários:

Anônimo disse...

Olá meu grande amigo!
Obrigada por sua visita e seu lindo comentário.
Aproveitando para dizer que seu blog está cada dia mais encantador.
Um grande beijo de sua amiga.

verinha disse...

Meu poeta amado!

Sinto-me feliz e orgulhosa com esse trabalho emocionante com o qual presenteia a todos nós.
Quero abraça-lo fortemente e dizer que cada vez mais te admiro e me emociono com tua sensibilidade e talento..
Parabens....
te amo, Poeta

vera portella

Vane M. disse...

Da vida o que sabemos ser inevitável é a morte, e o luto que dela fica pela partida de quem amamos. Lindo conto, um abraço!

Anônimo disse...

Profundo y lleno de sustancia y contenido.
Um abraço.

Contos da Rosa disse...

Bom texto, Sinval. Um olhar invertido, sob o ângulo de quem acompanha o pescador no mar e assim como a esposa, também sente sua perda. O luto das gaivotas arremata de forma sombria e comovente esse interessante conto de vida e morte.

Parabéns pela excelente participação.

abraços

Rosa Mattos
http://contosdarosa.blogspot.com

Escritora de Artes disse...

Simplesmente lindo...

Abçs

Maria Machado disse...

Parabéns poeta Sinval! Seu conto é magnifíco, e profundo gostei muito!
Um abraço!

MARIA MACHADO

Isa Lisboa disse...

É um conto triste, mas, infelizmente muito real também, existem muitos que lutam de forma desigual pela sobrevivência...
Gostei de o ler, o seu conto transportou-me para a beira desse mar, para a beira das casas daqueles que o enfrentam...

Abraço, bom domingo!

Carmen Lúcia.Prazer de Escrever disse...

Adorei Sinval,lindo conto.Já conheço seus trabalhos e somos seguidores.

Abraços.
Carmen Lúcia

Nádia Santos disse...

É o destino do verdadeiro pescador, um dia ser tragado por aquele que sempre lhe deu sustento, e a sua amada conviver com a dúvida de sua volta pra casa. Bem triste, mas assim é vida. Parabéns Sinval ficou muito bonito. Um abraço.

Zilani Célia disse...

OI SINVAL!
LINDO E TRISTE TEU TEXTO,VALEU TUA PARTICIPAÇÃO...
ABRÇS
http://zilanicelia.blogspot.com.br/ClickAQUI

Bento Sales disse...

Amigo Sinval,
O conto é emocionante, envolvente, muito bem tramado, bem escrito com uma linguagem erudita e culta; também não se pode olvidar que a gramática é perfeita, então, posso lhe asseverar que o texto nos agrada da forma ao conteúdo.
O conto enriqueceu sobremaneira esse evento singular do amigo Viviani.

Abraços a ambos.

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Oi Sinval...sem palavras para descrever tão lindo e emocionante conto.
Uma natureza linda envolvida pela triste partida do parceiro fiel e admirador, e que também dali tirava seu sustento.
Parabéns pela participação! Abraços,
Mariangela

Elvira Carvalho disse...

O luto. A eterna sina da mulher do pescador. Conheci muitas viúvas do mar. Portugal foi e de certa forma ainda é país de pescadores.
Um abraço e uma boa semana

Ghost e Bindi disse...

O mar é berço e é sepulcro...assim é a natureza, mãe e madrasta, ou é, apenas, a educadora que nos ensina a viver como se o amanhã não existisse.
Belíssima e bem contada crônica, Sinval.
Abraços

Bíndi e Ghost

VILMA ORZARI PIVA disse...

Um conto emocionante, sensível, impactante, tal qual esse abraço do mar aberto ao homem do mar.
Maravilha de conto!! Beijos!!

regina ragazzi disse...

Sublime seu conto Sinval. Muito belo!! Parabéns. Abraços

Marli Franco disse...

Sinval belíssimo trabalho,sensível e tocante que mexe com o nossos sentimentos mais profundos.
Os meus aplausos em sua belíssima Prosa Poética!
um beijo de violetas

Janete Sales Dany disse...

Um sublime conto do nobre poeta Sinval!

Aplausos merecidos!

Estou encantada!

Um grande abraço a todos

Lu Nogfer disse...

Meu querido!
Muito belo, parabensss!

Abraços!

Cesar disse...

Triste mas absolutamente bem escrito e real.